Os farenses «estão cada vez mais preocupados com a falta de capacidade dos cemitérios locais e os problemas que têm afetado os funerais dos seus entes queridos, amigos e conhecidos», lamenta a Comissão Política do Partido Socialista (PS) de Faro.
Isto porque «a maioria de direita na autarquia que, desde 2009, conseguiu que Faro fosse ultrapassada já por outro município na satisfação das necessidades de cremação na região».
Em nota enviada à imprensa hoje, segunda-feira, 15 de outubro, o PS diz que «deixou pronto o concurso para a sua realização, como reconheceu o atual edil, então vice-presidente da autarquia e mesmo assim, mesmo sem que implicasse qualquer investimento na obra por parte da Câmara Municipal de Faro, preferiu deixar arrastar a situação sem solução e que a capital da região seja substituída por outro concelho para iniciar esta solução quando preferida ainda em vida pelos defuntos».
Em 2014, «a maioria de direita opôs-se à proposta do PS de fazer estudar a alternativa de resolução que vem obstando à decomposição anaeróbica dos restos mortais, nos gavetões no cemitério novo, para só agora avançar com a adjudicação de estudo técnico para a solução que assim viabilize a construção de mais locais para os 400 funerais que por ano se realizam em Faro».
No entender da Comissão Política do PS Faro, «se esta situação já é causadora de grande preocupação e consternação sobre a forma como se faz o luto e se respeita a memória dos falecidos, os farenses foram agora apanhados de surpresa com a chocante ideia do presidente da Câmara Rogério Bacalhau, que equaciona construir um incinerador provisório só para queimar os restos mortais dos mais de 2000 corpos mumificados que aguardam decomposição no cemitério novo, independentemente de ter sido essa a vontade em vida ou reflexão da comunidade e dos seus familiares em honra da memória que nos deixaram».
Apesar do pudor e respeito que o assunto nos merece, a Comissão Política Concelhia de Faro do PS «vem dizer um basta a esta situação que ofende os farenses e lamentar o estado a que se deixou chegar esta importante área da gestão camarária e rejeitar soluções que ofendam a consciência dos farenses e o respeito pelos seus mortos».
O crematório de Faro já muito deu que falar, com a autarquia a anunciar a aprovação do projeto do edifício para instalar aquele equipamento em março de 2009, e mais recentemente, em junho de 2016, anunciou que rescindiu o contrato de concessão, construção e exploração do Crematório de Faro, assinado em junho de 2012 com a Sociedade Funefaro Gestão de Crematórios Lda e que esta empresa não chegou a cumprir, recebendo a autarquia, por via disso, uma indemnização de 309 mil euros.
Em dezembro do ano passado, Albufeira anunciou que seria o concelho algarvio a disponibilizar um crematório regional.
Câmara Municipal de Faro lamenta «alarmismo» e repudia comunicado do PS Faro
Em reação à nota de imprensa hoje enviada pela Comissão Política do PS Faro, o gabinete da presidência da Câmara Municipal de Faro ouvido pelo «barlavento», lamenta a nota enviada por aquela força política.
«Em primeiro lugar, toma-nos um sentimento de estranheza por este comunicado porque toda a informação que diz respeito à gestão dos cemitérios, quer no que concerne ao crematório, cemitério da Esperança e cemitério novo tem sido largamente explanada e debatida nas reuniões de Câmara com os vereadores da oposição», neste caso, a vereação socialista.
«Toda a informação tem sido passada. E tem havido um diálogo franco, aberto e segundo nos parece, até uma grande compreensão relativamente aos constrangimentos de que Faro padece nesta matéria», esclarece fonte da autarquia.
«Esta questão [do imbróglio jurídico do processo do crematório] é apresentada como se tivesse sido o presidente da Câmara [Rogério Bacalhau] a inviabilizar o concurso quando foi até foi por iniciativa deste executivo que o assunto se resolveu, tendo a empresa indemnizado a autarquia em 309 mil euros, porque o vencedor do concurso não quis» levar o projeto adiante. «Fomos nós que tivemos de resolver um problema que veio de trás», lembra.
O gabinete de apoio do Presidente recorda ainda que o que a gestão do PS deixou nesta matéria, foi «um cemitério novo que não funciona e um buraco de 90 milhões nos cofres do Município», o que só foi resolvido, com «sacrifício, a subscrição de um PAEL, um duro plano de reequilíbrio financeiro e completa reorganização dos serviços internos».
«O cemitério novo, aquele que nos foi deixado pelo PS, de facto não funciona. E só temos uma forma de resolver este problema. Em primeiro lugar, construindo cerca 500 gavetões, sendo que 176 estão em fase final de construção, mais 336 cujo procedimento está em curso. Depois, será procedida à exumação dos corpos e colocados nos novos gavetões para proceder ao arranjo das deficiências técnicas que estão nos blocos principais que nunca funcionaram corretamente. Essa é uma das formas».
Outra solução, «com a devida autorização das famílias, porque nada disto se faz sem a autorização das famílias, é que se poderá, caso a caso, efetivamente ponderar a cremação de alguns destes corpos, e se esta for a vontade das famílias», sublinha a mesma fonte.
No entender do Gabinete da Presidência, «este comunicado do PS Faro constitui uma manobra alarmista e revela falta de respeito para com o que os farenses têm de mais sagrado, que é a memória dos seus entes queridos».
«O que existe é a necessidade de se criar espaço e de se arranjar soluções para os problemas que vêm de trás», conclui ainda o gabinete da presidência da Câmara Municipal de Faro.