Foi numa tarde solarenga de verão que, vindo das longínquas terras da capital, um Messias, de seu nome António Costa, desceu às planícies do sul, onde viviam os súbditos que a República conquistara ao Reino dos Algarves. Num tom ameno, mas confiante, o Messias relevou trazer consigo uma profecia de bradar aos céus. Uma boa nova sob a forma de promessa anunciada: «reduzirei de imediato as portagens em 50 por cento. A Via do Infante será tendencialmente gratuita». O povo aplaudiu. Correram lágrimas de alegria e a esperança de ver um Algarve livre das clientelas da capital encheu de ânimo os homens.
«Vinde até mim, pois sou a esperança que buscais, de Lagos a Vila Real de Santo António, ou de Faro a Portimão. Irmãos, o caminho é uma Via do Infante sem portagens. Palavra dada é palavra honrada», jurou o Messias. As santas palavras exigiram, contudo uma fé cegas nas escrituras sagradas, um derradeiro sacrifício anunciado em outdoors divinos: «Voto útil é no PS».
O senhor descansou ao sétimo dia, e por coincidência, o dia das eleições calhou a um domingo. O rebanho foi às urnas e cumpriu a vontade de Deus. Foi então que, 26 dias, 11 meses, e 2015 anos depois de Cristo, o novo salvador descia à Terra, percorrendo a calçada da Rua de São Bento. Iluminados pela magnificência do todo poderoso, apareceram dois reis magos: Jerónimo e Catarina. Não trouxeram incenso, ouro ou mirra, mas ofereceram algo muito mais valioso: um pacto de fé, no qual juraram prestar vassalagem ao Messias durante os quatro anos.
O povo do sul, e até os mais crentes, ainda não viram um vislumbre da profecia. Porém, que se acalmem os espíritos dos mais inquietos, pois as antigas escrituras, como a Lei Eleitoral da Assembleia da República, revelam que o Messias há-de regressar ao Algarve, no ano de 2019. E qual Judas Iscariotes disfarçado, é quase certo que voltará a entregar a A22 aos seus captores por trinta moedas de prata. A boa fé dos eleitores, essa, é que não será a mesma…