É normal que se insista na urgência da construção do novo Hospital Central do Algarve (HCA), mas, portanto se tente mobilizar mais 300 milhões de euros em obra pública, que acredito não temos essa verba (o país não tem e o Algarve, por estar fora da região objetivo 1 dos fundos EU, maior dificuldade terá em mobilizar).
Arrisco, no entanto, que é desnecessário prosseguir-mos esse caminho. Faz-nos perder tempo precioso, podendo resolver melhor e muito mais rapidamente essas mesmas necessidades em saúde. Temos as unidades do Centro Hospitalar do Algarve (CHUA) em Faro e em Portimão (além de polos em Lagos e São Brás de Alportel), ambos têm boa capacidade de reabilitação, renovação das atuais infraestruturas e, essencialmente, podem crescer em valências e em novas áreas de oferta em saúde, de equipamentos e em acessos e estacionamento, por uma fração do valor e do tempo comparativamente, para serem úteis aos novos desafios que se avizinham. Vejamos o caso de Faro.
A infraestrutura tem menos de 40 anos e cerca de 550 camas. No projeto, o novo HCA teria 600 camas.
Mas este atual pode ter maior capacidade e ainda integrar todas as valências necessárias que um verdadeiro HCA motivador para os seus profissionais e diferenciador na resposta em cuidados prestados à população, se pudesse contar com o benefício, para o incremento, da área confinante disponível do velho Estádio de São Luís, com ligação, pelo seu topo norte, ao atual terreno do CHUA.
O terreno do estádio é do Sporting Clube Farense e a sua SAD deste tem o equipamento do Euro 2004 disponível para o futebol profissional.
Assumindo-se que o Estado, por acordo indemnizatório, ajude à construção da sede associativa e pavilhão de captação, por exemplo, junto da área no novo Pavilhão Municipal e do campo de futebol na zona da Penha (com integração na mesma área da piscina e futuro hotel desportivo) garantir-se-ia a sua manutenção e proximidade à cidade.
Estou certo que os quase mais de dois hectares de terrenos disponíveis confinantes serão suficientes para permitir o aumento da capacidade hospitalar, para mais permitindo-se o parqueamento subterrâneo ao atual relvado, e a sua progressão permitiria, com as novas áreas operacionais já construídas, reabilitar faseadamente a principal unidade do CHUA, transformando-se no novo Hospital Central do Algarve. Com Portimão, a aposta a passar pela ligação à Universidade do Algarve, gastando-se menos «em paredes» e investindo mais em investigação e tecnologias de diagnóstico, terapêutica e cuidados integrados.
Com estas soluções, os meios economizados permitiriam melhorar o investimento em equipamentos de saúde e também, ainda, melhorar a infraestrutura hospitalar, melhorando e renovando as valências em Portimão, Lagos e São Brás de Alportel. Estou seguro que sim e muito mais rapidamente, evitando que depois se abandonasse esses equipamentos de proximidade às populações em prejuízo da concentração de um novo de raiz, já ultrapassado então, que ficaria, outra vez, assoberbado.
Aliás, o que se faria, com um novo hospital a ter lugar no (meio de nenhures) Parque das Cidades, com as instalações do atual CHUA em Faro? Acreditamos que seria possível manter-se «um hospital de retaguarda», atrativo a quem?
O CHUA reúne uma comunidade de procura que influencia quase 5 mil pessoas/dia. Que apoios de retaguarda (creches, escolas, comércio e restauração) teriam as famílias e trabalhadores para organizarem a sua vida para essa nova localização? Que rede viária capilar suportaria a afluência?
Antecipo que os defensores de mais investimento em obra pública encontrarão os melhores motivos para se manter a discussão com os meios inexistentes e que servirão para manter a crítica sobre as culpas do atraso. Mas, partidarites à parte, não seria melhor focarmo-nos, de facto, já no novo HCA em Faro? Que se estude este caminho se forma pragmática e sem receios mas com realismo do tempo e recursos que todos ganharemos pela decisão mais correta e útil às pessoas, é o que arrisco defender.
Paulo Neves | Socialista e farense que assina opinião própria