«O que pretendemos é captar ideias de inovação, produtos, tecnologias, tal como fazemos com os parceiros que temos atualmente. Com este passo que estamos a dar, tentamos encontrar outros mecanismos, outros instrumentos que nos ajudem a inovar ainda mais. As dinâmicas locais de empreendedorismo são fundamentais para se criar uma rede. Quanto mais nós essa rede tiver, mais inovação aparecerá. Queremos apanhar o máximo possível», explicou aos jornalistas Alcino Lavrador, diretor-geral da Altice Labs, na quarta-feira, 13 de setembro, no Salão Nobre dos Passos do Concelho, onde decorreu a apresentação pública do projeto para a criação de um laboratório tecnológico.
O plano surge na sequência da criação de outros dois polos de incubação, um em Viseu e outro no Funchal, que complementam a estrutura principal deste grupo, na Universidade de Aveiro.
António Miguel Pina, presidente da Câmara Municipal de Olhão, revelou que «desafiámos a Altice há nove meses, e encontraram-se aqui duas vontades. A vontade de Olhão em atrair a criação de novas empresas na área das tecnologias, e a estratégia de desenvolvimento deles».
Segundo o autarca olhanense, «até ao final de outubro será criado um concelho coordenador estratégico», que juntará várias entidades regionais, «e no primeiro semestre de 2018, queremos abrir o laboratório e o período de candidaturas aos empreendedores», quer sejam empresas, estudantes ou desenvolvedores particulares.
O concelho estratégico envolverá parceiros «fundamentais» como a Universidade do Algarve, a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), a Associação Empresarial da Região do Algarve (NERA) e a Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), entre outras.
Segundo Alcino Lavrador, «irá definir que ideias, que áreas, que projetos fazem sentido para todos os intervenientes». Poderão vir a financiados, apadrinhados, ou co-desenvolvidos pela Altice. Em relação ao local, a autarquia considera disponibilizar um edifício de 200 metros quadrados já existente, ou construir um novo com o dobro do espaço, na zona industrial. A sessão contou também com a presença de André Figueiredo, coordenador deste projeto de descentralização da Altice.
Silicon Valley é cada vez mais virtual e global, mas o local para trabalhar também conta
«O Algarve e Olhão querem afirmar-se como um local em que os cérebros ligados às novas tecnologias tenham vontade de trabalhar e se fixar. A ideia é que percebam que têm aqui um ponto onde podem trabalhar associados a um grande grupo mundial. A Altice está presente em 18 pontos do mundo. Produzir, criar e defender novas ideias ganha aqui uma dimensão mundial. Já viram o sonho que é para um inglês, um francês ou um alemão desenvolver novas tecnologias no sítio onde passa férias? É esse o desafio», sublinhou António Miguel Pina.
Para Alcino Lavrador, diretor-geral da Altice Labs, «o Silicon Valley é cada vez mais virtual, quase que não tem uma localização física. Hoje, e agora aproveitando até esta digitalização da sociedade, dos negócios, da economia, a criação de aplicações e desenvolvimentos pode ser feito em qualquer lugar. Mas é preciso haver, efetivamente, entendimento e colaboração entre as partes que possam levar a inovação para o mercado. E, portanto, procuramos arranjar uma comunidade de desenvolvedores que possam enriquecer aquilo que fazemos», explicou aos jornalistas.
«O sítio também conta e Portugal tem vindo a afirmar-se como um polo atrativo para quem quer desenvolver tecnologia, fruto da aposta que se fez em anos anteriores na produção do conhecimento nas universidades. Infelizmente, também pelos motivos da crise económica que obrigou muitos quadros a sair para fora, mas que levaram o bom nome de Portugal lá para fora. Sabe-se que aqui existe capacidade de se fazer tecnologia da mais avançada que há. Sendo um país com segurança, tranquilidade, bom clima, é obviamente um fator de atratividade e o Algarve também será».
Algarve é «uma folha em branco»
Alcino Lavrador admite não ter «expetativas mensuradas. Vamos partir com uma folha de papel em branco e as ideias que forem surgindo vamos avaliá-las entre todos e decidir quais terão continuidade» no concelho coordenador. O diretor geral revelou que ainda não trabalhou com grupos de investigação da Universidade do Algarve. «Muito pontualmente temos feito algumas palestras sobre muitas das tecnologias que estamos a desenvolver. Nós, empresas precisamos do conhecimento que as universidades produzem para o transformar em produto. As universidades precisam de desafios e de casos práticos, casos industriais para poderem provar a teoria e o conhecimento que desenvolvem. A nossa relação com as universidades tem corrido bem porque vemo-las como criadoras de conhecimento com os seus timings, as suas regras internas que temos de respeitar».