A aldeia de Querença, no barrocal algarvio, terá em breve o seu Percurso Eco-Botânico Manuel Gomes Guerreiro. Esta iniciativa, que é também uma homenagem a este ilustre louletano, surge no âmbito do protocolo celebrado no passado dia 13 de dezembro, entre a Câmara Municipal de Loulé e a Fundação Manuel Viegas Guerreiro, e tem em vista a implantação de um percurso num espaço disponibilizado pela Fundação, tendo em conta o seu interesse científico e o seu carácter único no Algarve. É também esta entidade que ficará responsável pela execução do projeto.
Em linha com a nomeação de 2018 como Ano Europeu do Património Cultural, esta iniciativa representa, segundo os signatários do protocolo, «uma inovadora e importante forma de preservação do património natural, precisamente numa região portuguesa onde a diversidade e os endemismos atingem níveis notáveis, mas também de preservação do património cultural, já que a relação entre as populações e a natureza se exprime também neste projeto».
Assim, prevê-se que este Percurso possa potenciar o futuro itinerário turístico-cultural da região e criar em Querença um novo espaço de conhecimento (junto de investigadores, escolas ou público em geral), debate e sensibilização ambiental.
O Percurso Eco-Botânico Manuel Gomes Guerreiro nasce da candidatura conjunta da autarquia louletana e da Fundação Manuel Viegas Guerreiro ao Programa CRESC Algarve 2020. O valor global está orçado em mais de 200 mil euros, sendo que a autarquia dará um cofinanciamento de cerca de 62 mil euros, correspondente a 30% do investimento total.
Para o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, «além da homenagem a uma das mais notáveis figuras do concelho de Loulé, com um percurso profissional marcado pelo ensino e também pelo conhecimento e defesa na área ambiental, é de realçar neste projeto a preocupação com a sustentabilidade, desenvolvimento e valorização de um território marcado pela desertificação mas com um potencial enorme».
Manuel Gomes Guerreiro, o homenageado, nasceu em Querença, a 20 de janeiro de 1919. Após terminar o ensino secundário no Liceu João de Deus, em Faro, ingressou no Instituto Superior de Agronomia, licenciando-se em Engenharia Florestal e, no prosseguimento da carreira universitária, doutorou-se em Ciências Florestais.
A genética, os estudos ambientais, a floresta e as ciências ecológicas mereceram um especial interesse por parte deste algarvio. Foi Diretor do Instituto de Investigação Científica de Moçambique e trabalhou na docência, durante nove anos, na Universidade de Luanda, participando, mais tarde na criação das Universidades de Évora, Nova de Lisboa e do Algarve. Ficará ligado, para sempre, à Universidade do Algarve (UAlg), já que foi o Presidente da Comissão Instaladora da UAlg e o primeiro reitor da instituição.
A nível político exerceu, após o 25 de Abril, as funções de Secretário de Estado do Ambiente. Manuel Gomes Guerreiro, uma das mais destacadas figuras do Algarve do século XX, não só como cidadão e cientista, viria a falecer a 10 de abril de 2000.