Pescar e trazer sardinhas vivas para terra não é uma tarefa fácil. Na verdade, a operação teve que ser adiada várias vezes desde o último outono. Aconteceu, por fim, na sexta-feira, 4 de maio. Envolveu a embarcação «Aragão» da Tunipex, vários colaboradores da empresa (que nesta altura do ano já está em atividade na armação do atum ao largo da Armona), a tripulação da traineira «Samuelito» e três cientistas da Estação Piloto de Piscicultura de Olhão (EPPO) do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Foi ainda necessário um conjunto de tanques, gruas e um camião pesado para os transportar. Além dos meios envolvidos e da logística, foi preciso detetar um cardume de sardinhas não muito longe da costa «de forma a minimizar o tempo de viagem e potenciar a sobrevivência», segundo explicou a bióloga Ana Isabel Mendes, ao «barlavento», durante a expedição. Ainda o sol não tinha nascido e já o «Aragão» rumava ao ponto de encontro, a três milhas ao sul de Faro. Durante a viagem, os tanques foram cheios com água costeira fresca. Os biólogos trouxeram ainda garrafas de oxigénio para manter uma boa saturação.
Às 7h21, já os pescadores tinham o cerco fechado. As sardinhas foram recolhidas à mão, com chalavares e baldes flexíveis, com a ajuda dos biólogos Ivo Monteiro e João Araújo. «É uma espécie muito sensível, escama com facilidade. O nosso objetivo é capturar cerca de 2000 indivíduos. Este stock vai permitir trabalhar em várias fases. Além dos juvenis e dos reprodutores, precisamos de indivíduos para analisar e perceber o perfil nutricional da espécie» durante o cativeiro.
Apesar da pesca da sardinha estar adiada até 21 de maio, «como esta captura é para fins científicos, foi nos concedida uma licença especial com a duração de 12 meses. Este ano, em princípio, não será preciso mais, embora isso dependerá da mortalidade que possa haver nos próximos dias», quando as sardinhas estiverem nas instalações da EPPO.
À chegada à base, os investigadores repetiram o processo, contando e registando cada indivíduo. As que não sobreviveram à viagem, contudo, darão alguns dados científico valiosos. «Vamos tirar a amostragem biométrica e retirar amostras da gónada e de fígado» para avaliar o estado de saúde das sardinhas.
«Em todo o caso, já tínhamos aqui algum stock de épocas anteriores», visto que os trabalhos de investigação tiveram início em 2016. «Já tivemos cerca de 30 posturas. Embora ponham muitos ovos, não conseguimos ter muitas sardinhas. Para já, temos já larvas com 60 dias. Este projeto é um grande desafio, porque a sardinha é um peixe diferente dos que estamos habituados a trabalhar», como a corvina, o robalo e a dourada.
«A questão da sardinha é uma questão nacional, europeia, até. É mesmo um problema grave. Enquanto houver interesse em perceber o que é conseguimos fazer, e desde que haja financiamento, esta investigação será para continuar», disse Ana Isabel Mendes.
«A qualquer altura, pode correr mal. Nunca se volta à estaca zero porque já temos alguma experiência acumulada. Há sempre constrangimentos. É preciso criar um alimento adequado, que os animais queiram comer, que não tenha proteína ou gordura a mais», exemplifica. E o que seria ideal numa sardinha de viveiro? «Há a noção de ideal e há os limites daquilo que é possível a tecnologia alcançar. A aquacultura é uma indústria que se deseja sustentável», concluiu.