Vieram de Tavira, Portimão, Loulé, Quarteira, São Brás de Alportel, Lagos e até de Vila Real de Santo António. Trouxeram cartazes e palavras de ordem para responder ao apelo de Margarida Roxo, 16 anos, aluna do 11º ano da Escola Secundária Tomás Cabreira, uma das ativistas que convocou a Greve Mundial pelo Clima, na manhã de dia 15 de março, em Faro.
«A motivação desta manifestação, em primeiro lugar é a sueca Greta Thunberg, que fazia greve à escola às sextas-feiras, e que foi a primeira estudante a conseguir chamar a atenção do mundo para o ambiente. Nós somos a primeira geração que vai ser muito afetada» com a problemática das alterações climáticas, «e acho que temos o dever e o poder para mudar isto».
E até nem foi «difícil convencer os colegas a aderir, os que queriam mesmo participar vieram. Outros deram a desculpa das faltas injustificadas, mas ninguém morre por esta falta e é necessário fazer alguma coisa», rematou a jovem. Ao ver cerca de 400 colegas juntos, «para quem diz que a região fica de fora, está aqui dada uma excelente resposta».
Discreto, mas a acompanhar o protesto dos jovens com toda atenção, estava António Telo, doutorando em Alterações Climáticas e Sustentabilidade Ambiental, num projeto que une as três faculdades públicas em Lisboa. «Estudo os motivos pelos quais o ser humano não tem agido até agora» em relação a esta problemática. «A maior resistência está do lado dos cidadãos. Toda a gente tem boas intenções, mas ninguém está disposto a abdicar de nada. As soluções estão dentro da nossa tecnologia atual, e é possível resolver esta crise, mas ninguém se quer sacrificar em nada», lamentou ao «barlavento». E exemplificou. «Veja o protesto dos coletes amarelos devido à subida dos impostos sobre o gasóleo, que serviria para preparar a transição para os transportes elétricos».
António Telo estuda o problema desde 2004 e acredita, contudo, que há uma sensibilização crescente, não poupando elogios à iniciativa dos estudantes. «Esta é a geração que vai apanhar com a crise ambiental em cheio, que se vai acentuar a partir da década de 2040. A crise ambiental é global. Imagine que estamos a cair numa ravina, com uma inclinação leve ao início, que se acentua aos poucos. Até aqui, estávamos habituados a uma sociedade que tinha recursos naturais enormes, que estão a escassear cada vez mais. E atenção que o Algarve vai ser afetado de várias maneiras. Uma delas é muito simples. O deserto do Saara está-se a deslocar lentamente para norte. Vai chegar cá. Temos a proteção das zonas costeiras, mas é inevitável. Neste século, não se prevê que o nível do mar suba mais de 50 centímetros a metro. Mas nos séculos seguintes, se a subida continuar, pode atingir os 70 metros. Quando o processo começar, é irreversível», previu. «Enquanto estas iniciativas não chegarem a outras gerações, aos decisores, a quem tem poder de voto, nada muda. As pessoas até se preocupam com as alterações climáticas, mas é uma preocupação de segundo plano. E o assunto é urgente. Estes jovens são os primeiros a perceber que é preciso agir», concluiu.