Telma Robim, a nova administradora executiva da ALGAR, entidade responsável pelo tratamento e valorização dos resíduos urbanos na região, assumiu a gestão da empresa em setembro. Na primeira entrevista que concede, releva o que tem em carteira para os próximos dois anos.
barlavento: Está a decorrer a expansão do aterro sanitário do Sotavento. Pode detalhar os trabalhos e o enquadramento?
Telma Robim: Sim. Desde o início, o modelo técnico da conceção da ALGAR previa dois aterros sanitários, um no Sotavento e outro no Barlavento. Cada um deles com quatro células. Mas apenas foram feitas duas. Os trabalhos de construção da nova célula C do aterro sanitário do Sotavento iniciaram-se em meados de julho passado. O custo da empreitada é de 4 milhões de euros. Deverá ficar concluída num prazo máximo de 16 meses. Com este investimento espera-se obter um volume de encaixe de 1 milhão e 200 mil metros cúbicos (m3) para a deposição de resíduos, o que permitirá uma capacidade estimada de 130 mil toneladas de resíduos recepcionados por ano. Prevê-se um tempo de vida útil mínimo de exploração da célula de 10 anos, sendo expectável que tenha uma duração superior devido à entrada em funcionamento de outros equipamentos que irão retirar matéria orgânica e recicláveis para valorização.
E em relação ao aterro sanitário do Barlavento?
Irá ser construída a quarta célula. Possivelmente, os trabalhos arrancarão no início do próximo ano. Na verdade, os aterros têm estado a durar mais tempo do que inicialmente se pensou até porque, repare, em 1995, quando a ALGAR arrancou, tinha um contrato de concessão de 22 anos. Agora temos um contrato para 34 anos, com as mesmas duas infraestruturas. Temos também outros tratamentos complementares que vão ser reforçados e mais intensificados, para prolongar a vida útil de ambos. Ou seja, em breve será reforçada a triagem dos resíduos que chegam aos aterros? Sim. Já temos um tratamento mecânico a funcionar no Barlavento que vai ser ampliado. Claro que estes processos têm alguma morosidade e complexidade na sua construção, mas vamos iniciar as intervenções no próximo ano.
E que outros investimentos estão na calha?
A ALGAR prevê investimentos consideráveis para 2018/19 não só nos tratamentos mecânicos, na construção da célula D no Barlavento (a C já está em construção), mas também na recolha seletiva. No total, rondarão os 16 milhões de euros. Vamos adquirir mais viaturas para a recolha seletiva multimaterial já no próximo ano, de forma a termos mais e melhor capacidade, e também reforçar a contentorização. Está prevista a aquisição de ecopontos de superfície de 2,5 e 5 m3 , para reforço dos equipamentos existentes, num total de 741 conjuntos de contentores. Sabemos que esta é uma atividade de extrema importância no Algarve. É difícil em qualquer ponto do país, mas nesta região é particularmente complicada por causa da pressão turística. Isso leva-nos a ser mais cuidadosos e a dar um enfoque especial no verão e nos períodos de grande ponta, para que a população sinta que tem a reposta que precisa por parte da ALGAR.
Qual o ponto de situação, em termos quantitativos, dos fluxos dos resíduos sólidos urbanos indiferenciados e recicláveis, numa altura em que o turismo algarvio bateu recordes?
No último ano, os fluxos de resíduos específicos registaram um crescimento médio de 6,5 por cento, onde se destacam, em quantidades, os resíduos sólidos urbanos e os resíduos volumosos com incrementos de 5,5 e 13,7 por cento, respetivamente, quando comparados com o período homólogo.As embalagens recolhidas nos ecopontos tiveram um crescimento médio de 3,3 por cento, quando comparado com o mesmo período do ano passado.
Ou seja, os fluxos continuam variáveis?
São bastante variáveis, não só na sua composição, mas nas quantidades ao longo do ano. Não recebemos apenas os resíduos indiferenciados – aqueles que produzimos em nossas casas – mas também verdes de cortes de jardins e de podas, e alguns outros de limpezas urbanas. A verdade, contudo, é que os fluxos já foram mais concentrados. Hoje, percebemos o Algarve já não é tão sazonal como era. Ou seja, ainda é sazonal, mas durante um período muito mais alargado. Temos já muita população estrangeira que aqui reside uma boa parte do ano, e muita que se desloca para vir cá trabalhar. Há emprego e isso é uma boa notícia para a economia da região. Os resíduos acompanham estas tendências.
Qual é o ponto de situação financeiro da empresa?
A ALGAR é uma empresa financeiramente sólida. É um grande empregador na região, neste momento conta com 330 trabalhadores. Tem um volume de negócios na ordem dos 21 milhões de euros ao ano. Não tem dificuldades financeiras, mas necessita de ser gerida com parcimónia. É uma empresa regulada com regras muito próprias, tem de cumprir padrões muito exigentes, quer do ponto de vista das suas finanças, quer do consumo de recursos. Mas está bastante bem. Como é a relação com os municípios? A ALGAR é uma empresa com 20 anos e tem uma larga experiência de trabalho com os municípios, até porque estes têm uma dupla função. São clientes, por um lado, mas também são acionistas e controlam as contas. São parceiros no capital social e na gestão. E porque são nossos clientes, obviamente, há sempre coisas em que concordam mais, e outras menos. Claro que há pontos a melhorar por parte da ALGAR, não no que toca à relação institucional, mas no serviço que pode e deve ser melhorado.
Que pretende melhorar durante a sua administração?
Estamos a trabalhar em parceria com os municípios para que o próximo verão seja mais tranquilo. Sabemos que é um enorme desafio porque o Algarve tem cada vez mais população flutuante. E este ano notámos que o pico dos resíduos está a esbater-se muito lentamente. Estamos todos empenhados em conseguir dar resposta às necessidades do ponto de vista da recolha seletiva.
Isso é possível?
Tem de ser possível. Vamos comprar três novas viaturas pesadas para recolha de ecopontos já no próximo ano. Depois, em 2019, virão mais. Isto vai permitir-nos contratar mais equipas no terreno, de acordo com as necessidades. Este ano já reforçámos algumas equipas no verão, mas tivemos dificuldades no recrutamento, aliás, é um problema que foi transversal a vários sectores. Por isso, queremos arranjar estratégias mais aliciantes, para sermos mais competitivos e atrativos no recrutamento. Vamos precisar de mais quatro equipas (motorista e auxiliar) a tempo inteiro. Depois, precisamos de reforços mais pontuais, em períodos mais alargados, da Páscoa até novembro. Além disso, temos alguns projetos-piloto na recolha seletiva de embalagens que estão muito embrionários. Ainda estamos a trabalhar com alguns municípios para ver como vamos avançar, e em que zonas. Passará por ter viaturas e equipas dedicadas a fazer recolhas porta-a-porta. Provavelmente só arrancará em 2019.
Telma Robim viu a ALGAR nascer e agora está «satisfeitíssima» por regressar às origens
A nova administradora executiva não é, de todo, pessoa estranha à casa que vem governar. «Vim para a ALGAR em janeiro de 1997, como técnica. Acompanhei todo o arranque da empresa antes da exploração. Assisti à selagem das lixeiras então existentes na região, à construção do aterro sanitário do Barlavento e das oito estações de transferência. Acompanhei a escolha do local do aterro sanitário do Sotavento e todo o processo subjacente a essa decisão. Quando saí, em 1999, o projeto ainda não estava concluído. Na altura, estávamos no início da recolha seletiva no Algarve. A unidade de triagem ainda estava nos seus primórdios», recorda. «Portanto, estive 18 anos fora, numa das firmas do grupo Empresa Geral de Fomento (EGF), onde fui diretora de exploração. Agora regresso, finalmente, às origens. E estou satisfeitíssima. Encontro uma ALGAR que já não é a mesma, que cresceu bastante e tem mais atividades, mas que ainda conta com colegas do meu tempo. Isso é muito gratificante», sublinhou ao «barlavento».
ALGAR vai continuar a apostar forte na educação ambiental
«No que diz respeito à reciclagem, muito trabalho tem sido feito, mas muito há ainda a fazer», diz Telma Robim, a nova administradora executiva da ALGAR. A empresa desenvolve com regularidade várias ações de sensibilização, divulgadas no «Guia de Atividades de Educação Ambiental», disponibilizado aos agrupamentos escolares dos 16 concelhos da região, através do website. Por ano, envolvem cerca de 2400 formandos (público escolar, alunos e professores). As várias infraestruturas acolhem cerca de 900 visitantes por ano. Em Albufeira, o Centro de Educação Ambiental recebe visitas à exposição patente ao público sobre as atividades da ALGAR; realiza workshops, teatrinho de sombras, peddy-paper e outras iniciativas, todas disponíveis para as escolas mediante marcação prévia. A empresa tem ainda uma forma itinerante para levar a mensagem a toda a região, através do Veículo de Educação Ambiental (VEA). É um camião equipado com conteúdos multimédia, tal como um filme 3D, cujo protagonista é o «Colhereiro», a mascote da ALGAR. Em média, acolhe 2200 visitantes por ano.
Dê os eletrodomésticos avariados aos bombeiros
Ainda é frequente encontrar contentores para recolha de equipamentos elétricos e eletrónicos, lâmpadas e pilhas nos hipermercados. No entanto, são alvo fácil de furtos, e por isso foi preciso encontrar alternativas. Assim, desde maio de 2015 que as instalações dos bombeiros da região algarvia integram a rede de recolha da Associação Portuguesa de Gestão de Resíduos (Amb3E), no âmbito da campanha da ALGAR «Missão Electrão». Telma Robim, a nova administradora executiva da ALGAR, conhece bem o problema. «Sim, isso é uma realidade que acontece em todos os pontos do país. Alguns destes equipamentos são muito poluentes, e por isso há que evitar o seu desmantelamento a céu aberto. Cada vez mais temos gadgets eletrónicos em casa que avariam e que podem ser entregues aos bombeiros. A ALGAR faz a recolha, encaminha-os para valorização, e em troca os soldados da paz recebem uma comparticipação pelo material entregue. Isto ajuda-nos porque é uma forma de estarmos mais próximos da população e de ampliar a nossa rede. Além disso, ajuda os bombeiros a terem uma fonte de receita adicional» que será tão expressiva quanto as pessoas quiserem. Cada quartel aderente está equipado para a recolha de aparelhos de menor dimensão, como varinhas mágicas, telemóveis, equipamentos de música, entre outros. Até ao primeiro semestre de 2017 já foram recolhidas mais de 194 toneladas destes materiais que, no total, renderam aos bombeiros da região cerca de 14500 euros.
Ecoponto amarelo causa confusão e desperdícios na reciclagem
Telma Robim, a nova administradora executiva da ALGAR estima que do total anual gerido pela empresa, cerca 420 mil toneladas de resíduos, cerca de 10 por cento são recicláveis. Este número só não é superior porque «ainda existe confusão no que toca às embalagens. Em relação ao vidro, o refugo quase não existe e praticamente tudo é aproveitado. No fluxo de papel e cartão, o refugo também é relativamente baixo, e rondará 3 a 5 por cento», estima. Nas embalagens plásticas e metálicas, contudo «as taxas de rejeição rondam os 15 a 20 por cento. O problema é que as pessoas depositam no ecoponto amarelo, resíduos que não são material-alvo para reciclagem», um problema transversal a todo o território nacional. Em breve, no Algarve, arrancará uma nova campanha de sensibilização, que consiste na distribuição de um folheto informativo sob o lema: «as embalagens colocadas no ecoponto dão origem a novos produtos. Faça parte deste ciclo».
O panfleto, de leitura bastante simples e imediata será distribuído juntamente com o recibo da água. A iniciativa está a ser desenvolvida em parceria com os 16 municípios da região. Telma Robim explica porquê. «Os municípios são um fator-chave no sucesso destes projetos. São quem tem acesso à população, os meios no terreno, e grande parte das escolas têm gestão municipal. Além disso, têm técnicos muito capacitados nestas áreas. Juntos, somos fortes. Sozinhos, temos menos força», sublinha. «A reciclagem é um ato voluntário, não é algo obrigatório.
Se o cidadão acha que é um comportamento ambiental correto da sua parte, separa. Se acha que não ganha nada com isso, bem, a nossa função é não apenas recolher, mas mostrar-lhe que a separação faz todo o sentido e tem vantagens. Um resíduo que é reciclado é um recurso que é poupado. Queremos que haja mais pessoas a separar, e a separar melhor», afirma. A realidade atual não é desmotivadora. «A taxa de desvio é cerca de 10 por cento. Não fico satisfeita, mas é um valor indicativo muito interessante. Por norma, olhamos para a capitação, ou seja, quanto é que reciclamos por habitante. O Algarve tem o recorde do país, face aos seus cerca de 400 mil habitantes». Em relação às diferenças entre municípios no que toca à reciclagem, Robim diz ainda não ter dados para citar. «A experiência diz-me que os concelhos mais urbanos separam mais. É certo que ainda não conseguimos cobrir todas as áreas com os equipamentos que desejaríamos, e isso acaba por se refletir nas localidades mais pequenas. É mais fácil ter cobertura total em zonas urbanas, onde a população está concentrada, do que em zonas dispersas, onde não podemos ter um ecoponto à porta de cada cidadão».