Não é uma prova de fogo, mas será a apresentação do trabalho que Jorge Alves tem vindo a desenvolver com 10 dos seus atuais 56 alunos, neste caso, um grupo de jovens dos 7 aos 19 anos de idade, das escolas de Música Águia Som (Olhão), Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva (Loulé) e Casa do Povo da Conceição de Faro. O concerto está marcado marcado para domingo, 16 de dezembro, às 16h30 no Auditório da Freguesia de Olhão, tem entrada livre e promete surpreender. «Tenho um aluno de Olhão, o João Custódio, de 13 anos que já toca peças de nível superior. Tem potencial para ser um futuro campeão do mundo», garante.
Na sua abordagem pedagógica, Jorge Alves considera que «um professor de música não forma só um músico, mas também a postura, a disciplina e o respeito. Grande parte da expressividade é trabalhada por nós. Há muitas pessoas que, quando tocam uma peça, estão apenas a reproduzi-la. Não é isso que quero, mas ver tocar com o coração, transmitir ao público que cada nota é uma emoção. Os mais novos, por vezes, não percebem logo, é necessário arranjar outra forma de explicar, mais gestual, mais divertida».
Questionado sobre o panorama musical da atualidade, concorda que «o acordeão está a renascer de novo no Algarve. No meu concelho, noto bastante isso. Estava muito apagado e agora cada vez mais tenho trabalho e consigo realizar projetos», até ao nível de eventos. No verão passado, Alves organizou primeiro festival ao ar livre «Acordeão ao Largo» na Praça Agadir e no Largo da Igreja. O programa trouxe a Olhão músicos de topo como Rodrigo Maurício e Jérémy Lafon, sendo que em 2019 «haverá mais surpresas».
«O Algarve tem potencial para se tornar numa referência pelo número e pela qualidade dos nossos acordeonistas. Mas, para isso acontecer, tem de haver união entre todos, e isso ainda falta muito por cá. Cada um tem os seus alunos, tem os seus espetáculos, mas não tem de haver rivalidade. Pode existir uma convivência em que nos convidamos uns aos outros, e ainda falta um pouco essa cultura», lamenta ao «barlavento».
Regra geral «os jovens olham para o acordeão como algo ligado ao pimba e ao folclore. Não têm a noção de tudo o que pode ser feito com este instrumento, até rock». Por outro lado, «a oportunidade que o país dá ao acordeão é sobretudo na área do folclore, do bailarico, da festa, ou seja, a vertente mais comercial. E isso acaba por fechar os leques à composição e a muitas outras áreas que podiam ser exploradas, como o jazz mush», um som vanguardista «em que o acordeão pode assumir as linhas principais», explica.
Resgatar o acordeão dos preconceitos e abrir campo para outro virtuosismo é, aliás, um dos princípios do seu trabalho educativo. E lembra o seu caso pessoal. «Iniciei os estudos influenciado pelo meu avô que tocava clarinete na Filarmónica 1º de Dezembro, em Moncarapacho. Mostrava-me muitas cassetes de acordeonistas portugueses e isso estimulou o meu gosto», recorda. Mas rendeu-se quando viu os Íris tocar o tema corridinho cansado ao vivo. Teve aulas com Cláudio Martins, o acordeonista da banda de rock da Fuzeta, e depois com o professor Hermenegildo Guerreiro. Fez o Conservatório e, no ano passado, concluiu o Curso de Composição na Escola Superior de Artes de Évora, área que também lhe interessa, a par da direção de orquestra. Já compôs a «Marcha dos 140 anos» da Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva e ajudou na escrita do hino da Banda Filarmónica de São Brás de Alportel. Um percurso que promete continuar.