«No fundo, o nosso coração é como um motor. Trabalha e precisa de combustível que lhe chega por uns tubos que chamamos coronárias. Quando um deles se fecha, nós vamos perder uma parte do músculo cardíaco. Então, temos uma janela muito curta para as desbloquear. Normalmente fazemos cerca de 200 doentes em emergência por ano», começou por explicar ao jornalistas, o médico cardiologista Victor Brandão, responsável pelo Laboratório de Hemodinâmica, uma peça vital da Via Verde Coronária que responde aos casos mais graves de enfartes.
Aqui, o aparelho para as intervenções estava tão obsoleto que, «o fabricante disse que já não podia assegurar a substituição de peças em caso de avaria. Estava sem possibilidades de restauro. Era como quem tem um carro muito antigo, ficávamos na contingência de ter de ir ao ferro-velho e aos dealers buscar peças. Era a situação em que estávamos, correndo o risco de ficar meses à espera. Ora a população do Algarve, e também de parte do Alentejo, não pode, nem podia ficar sem acesso a este tratamento».
Por isso, a administração do ex-CHA investiu cerca de 430 mil euros, num upgrade da Siemens, segundo o médico, «é o terceiro do género instalado no mundo. Não é o top, mas serve 100 por cento as necessidades», assegurou.
Agora, o serviço conta com a tecnologia mais recente no mercado, com «melhores especificações ao nível da capacidade térmica e taxa de dissipação, uma melhor performance durante a realização de exames, uma imagem com maior resolução e eliminando a necessidade de paragens durante os exames para arrefecimento da ampola». Segundo a médica Ana Camacho da cardiologia, foi feita uma candidatura à Fundação EDP «para a remodelação do chão, ar condicionado e remodelação de alguns equipamentos, no sentido de melhorar o serviço que oferecemos aos nossos doentes». Há ainda uma outra candidatura a fundos comunitários «para se fazer uma melhoria no sistema informático da cardiologia, porque o atual já não comporta o armazenamento de toda a informação».
Mas as melhorias não ficam por aqui. No serviço de radiologia, já está instalado e a funcionar o upgrade da Ressonância de 1.5 Tesla, um investimento de 400 mil euros. De acordo com o coordenador Jorge Pereira, todo o núcleo foi modernizado. «Agora temos 18 canais em vez de quatro, o que possibilita realizar outro tipo de exames, de forma mais rápida, o que é muito bom para a pediatria e também no caso de utentes agitados», disse aos jornalistas. A Ressonância Magnética custou 400 mil e possibilita de técnicas de exame de maior complexidade diagnóstica que, até à data, não eram realizadas no ex-CHA.
Neste serviço estão a ser feitas obras, para a instalação de uma nova Tomografia Computorizada (TC) de última geração, com 128 cortes, num investimento de cerca de 500 mil euros. Também este permitirá a realização de exames especiais nas áreas de pediatria, angiologia e cardiologia. Este investimento irá poupar despesas, evitando que o CHA tenha que recorrer aos exames realizados no exterior, sobretudo nos períodos de paragem do outro equipamento de TC de 16 cortes atualmente em funcionamento, representando uma poupança anual de cerca de 300 mil euros. Em janeiro foi apresentado um Plano de Investimentos no prazo de três anos, que prevê 19 milhões de euros e que permitiu adquirir estes equipamentos.
«Fantasma» do Hospital Central do Algarve prejudica o presente
Joaquim Ramalho, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve, admitiu aos jornalistas que «há uma limitação que não podemos ultrapassar, que é a infraestrutura física. Nós podemos acomodar-nos, digamos, ajeitar o que temos cá dentro. Mas temos a pele que temos, e esta, de facto, está esticada» no Hospital de Faro. A culpa é do «fantasma do novo hospital central do Algarve, que é um fantasma que paira por aí, para o bem e para o mal. Uma das coisas que tem provocado, além das expetativas, se calhar, é algumas hesitações em matéria de investimento», disse.
«Se o fantasma desaparecer do horizonte e se se pensar que, naturalmente, isso não será num horizonte temporal» próximo, «bem, então terá que se pensar num tipo de intervenção diferente. Tem havido incerteza no quadro da estrutura hospitalar desta região. Se estamos a pensar em prazos mais curtos, então valerá a pena investir naquilo que é crítico, que pode ser recuperado e que não se traduz em desperdício de dinheiro. Sou otimista e penso durante esta legislatura, esta questão ficará esclarecida», sublinhou.