Estalou o verniz no seio do Nós, Cidadãos! em Portimão, tendo já levado a uma tomada de posição da Comissão Política Nacional deste partido, na sexta-feira, 15 de junho. A estrutura suspendeu Mário Cintra, militante portimonense, dos cargos e funções que assumia até à data, pois o filiado é agora alvo de um processo disciplinar.
Tudo porque, Mário Cintra, que era presidente da Comissão Política Concelhia eleito numa lista única há pouco mais de três meses, resolveu informar, em comunicado datado de 13 de junho, que tinha sido retirada a confiança política a Cristina Maria de Sousa Velha, deputada municipal eleita em Portimão nas últimas eleições autárquicas de 1 de outubro. No entanto, nessa nota, Mário Cintra não justificava as razões da tomada de posição que tornava pública. Lia-se, que «a Comissão Política da Concelhia de Portimão do Nós, Cidadãos!, reunida no dia 21 de maio de 2018, e a Assembleia de Militantes, reunida no dia 8 de junho de 2018, aprovaram e ratificaram por unanimidade, retirar a confiança política a Cristina Velha, representante na Assembleia Municipal de Portimão».
«A deputada municipal já não representa, a partir de 11 de junho, na Assembleia Municipal, o Partido Nós, Cidadãos!. Todas as intervenções, votações e declarações de voto de Cristina Velha serão da sua inteira responsabilidade, enquanto permanecer, na qualidade de membro desta Assembleia Municipal», informava ainda Mário Cintra.
O problema é que a Comissão Política Nacional (CPN) deste partido não se revê nesta tomada de decisão, condenando esta atitude. Pelo contrário, refuta estes factos. A CPN «declara a sua confiança política total em Cristina Velha como única representante do partido na Assembleia Municipal. O filiado Mário Cintra, de Portimão, tem vindo a prestar declarações incoerentes sobre a deputada municipal, mas sem qualquer validade». E vai mais longe ao suspender de funções o filiado.
Aliás, de acordo com Cristina Velha, a Assembleia mencionada por Mário Cintra não tem qualquer validade legal. Recordou ainda, em declarações ao «barlavento», que foi eleita para a Assembleia Municipal pelos cidadãos do concelho, função que acumula com a presidência da Mesa da Assembleia de Militantes da estrutura concelhia, sendo Cristina Velha «a única com poder para convocar os filiados» numa sessão deste órgão.
É que, afinal de contas, Mário Cintra retirou a confiança política da filiada numa reunião que o próprio convocou. A deputada alega, porém, que, conforme os estatutos, só se os militantes, uma percentagem do total, lhe pedisse uma reunião e ela recusasse é que a Assembleia de Militantes poderia utilizar outra via para fazê-lo, e desde que fossem cumpridos os requisitos legais, explicou. E, neste caso em concreto, da parte da concelhia, que conta «com pouco mais de 30 militantes», não foi feito qualquer pedido, assegurou.
Apesar de Mário Cintra não evidenciar as razões pelas quais tentou retirar a confiança política a Cristina Velha, a deputada considera que está ligado ao facto de não ter concordado com algumas das atitudes do presidente da concelhia, entretanto suspenso.
O «barlavento» apurou que a rutura terá acontecido por duas razões, uma delas ligada à criação de uma estrutura regional do partido. Na concelhia, foi criada uma Comissão Instaladora, numa primeira fase, tendo depois sido marcadas eleições, com lista única encabeçada por Mário Cintra. Daí a tomar a decisão de seguir o mesmo exemplo e criar outra Comissão Instaladora (CI) para começar uma estrutura distrital foi um passo. No entanto, apenas quem pode nomear uma CI a nível regional é a Comissão Nacional e esta, encabeçada por Mário Cintra, não tem o aval da CNP, garantiu.
«Esta CI criou em 15 dias uma plataforma distrital, com várias irregularidades, sendo que a primeira é que [Mário Cintra] não foi mandatado pela CNP», esclareceu Cristina Velha.
Esta divisão a nível do Algarve poderá tomar outros contornos e chegar ao âmbito nacional, pois o grupo de militantes do Nós, Cidadãos! que acompanha Mário Cintra pediu um Congresso Extraordinário para debater as dúvidas que tem em relação à gestão da Comissão Nacional, devendo este realizar-se em breve. Esta terá sido a segunda razão da rutura.
Mário Cintra ingressou no movimento Nós, Cidadãos! depois de ter abandonado o Partido Social Democrata (PSD), antes das eleições autárquicas de 1 de outubro, por não concordar que os social-democratas se juntassem ao CDS e que os centristas tomassem a dianteira da coligação. Aliás, tanto assim foi que José Pedro Caçorino liderou a lista à Câmara Municipal de Portimão pelo Servir + Portimão, enquanto Mário Cintra encabeçou a lista do Nós Cidadãos! que não elegeu ninguém para a aquela autarquia.