O antigo presidente da comissão concelhia do Partido Socialista (PS) olhanense Luciano de Jesus não se demitirá da presidência da Junta de Freguesia de Olhão, assegurou ao «barlavento». A afirmação surge após aquela estrutura política ter emitido uma nota de imprensa onde lhe exige que abandone o cargo.
«Como é evidente, não me demito. Para já, porque o pedido, vindo de quem vem, não faz o mínimo sentido. Em segundo lugar, fui eleito pela população. Nas listas do PS é verdade, mas através de um programa que apresentei à população, o qual, ao final de dois anos, ou seja, a meio do mandato, tinha cumprido na integra. O que é um orgulho para mim e para o meu executivo. A partir dessa altura encontrei mais questões que achava que deviam ser debatidas e levadas a cabo. Estou a conseguir realizá-las», justificou.
O atual presidente da Junta de Freguesia, que vai candidatar-se à Câmara Municipal de Olhão como independente, após ter saído do PS, sublinhou ainda que «alguém pedir, a três meses das eleições, pelos motivos que pede, a demissão, só se pode definir como aproveitamento político».
A exigência foi comunicada à imprensa, numa nota assinada por Esmeralda Ramires, militante que sucedeu a Luciano Jesus na presidência do secretariado da concelhia, após a saída deste daquela função. E surge na sequência de uma outra nota anterior, desta vez, vinda da distrital do PSD, onde o partido anuncia o apoio a Luciano Jesus.
Em resposta, o PS de Olhão fez então saber que considera a atitude do candidato independente «inqualificável dado apenas demonstrar o intuito pessoal na assunção do cargo, contribuindo para o descrédito dos cidadãos nos políticos e na democracia. Em consequência existe, desde já, o dever de Luciano de Jesus renunciar, de imediato, às funções de presidente» daquele órgão autárquico, «fazendo-se substituir pelo segundo candidato eleito na lista do PS», lê-se.
«Se ainda resta alguma ética democrática a Luciano Jesus este compreenderá que quem ganhou as eleições para a Junta de Freguesia de Olhão foi o PS e deve ser este partido a governar», acrescentou Esmeralda Ramires.
Ora, Luciano de Jesus considera que o pedido é um «aproveitamento político», acrescentando que a atual presidente da concelhia era contra a política de António Miguel Pina. «Ela disse que este era o pior presidente da Câmara que passou por Olhão. E agora, por um lugar político, estão a fazer uma série de coisas com impacto negativo no partido internamente. O PS está enfraquecido».
A agora líder concelhia, contactada pelo «barlavento», afirmou que é fiel aos seus princípios. «O candidato já tínhamos e continuamos a ter e a partir do momento em que o meu partido tem um candidato, como defendo os meus princípios, defendo o PS, defendo a candidatura do partido e, naturalmente, defendo António Pina».
Esmeralda Ramires argumentou ainda que é «militante do Partido Socialista», sempre defendeu «que deverá vida dentro do partido. Não sou de mordaças, portanto, sempre concordei quando havia de concordar e sempre discordei quando havia de discordar».
Refere também que o que está em causa é uma questão de ética. «É alguém que foi eleito nas listas do PS. A partir do momento em que hoje é candidato pelas listas do PSD deveria devolver ao PS o lugar. Penso que é uma questão de ética apenas e não podemos mesmo aceitar» esta atitude, justificou.
A verdade é que a guerra interna no PS de Olhão começou há quase dois meses, quando a concelhia escolhia o cabeça-de-lista à Câmara Municipal.
António Pina, atual presidente da Câmara Municipal de Olhão, seria o candidato natural, pois a diretiva nacional assim o apontava. O verniz estalou, quando Luciano de Jesus mostrou interesse em ser o número dois de Pina, «mostrando uma ligação entre autarquia e concelhia», relatou Luciano de Jesus, acrescentando que apesar da concelhia aceitar esta ideia António Pina rejeitou-a.
A líder concelhia explicou ainda que «Luciano nunca apareceu como um candidato alternativo a António Pina. Apareceu como número dois, porque alguém saiu. Foi por força das circunstâncias, até porque ele era o candidato à Junta de Freguesia, mas tinha expetativa de integrar a equipa à Câmara».
Então, o presidente da concelhia, nessa reunião, afirmou que abdicava de ser o número dois na lista e propôs-se para voltar a correr pela Junta de Freguesia de Olhão, onde ainda é presidente. Foi o único candidato, segundo contou, a ser aprovado por unanimidade. No entanto, António Miguel Pina não quis esta opção. Entretanto, a Federação do PS avocou o processo e foi, após essa decisão, que na reunião seguinte, que Luciano decidiu sair do partido.
«Isto é quase que um regime totalitário, em que um indivíduo se sobrepõe a toda uma estrutura. Depois anuncia por mensagens aos meus camaradas que me vai assassinar politicamente. Fui o seu maior apoiante, mas mal chegou ao poder, desvirtuou tudo o que sonhámos para Olhão e que tem a ver com a identidade local», lamentou. Por isso, para continuar esse trabalho, afirmou que se candidata como independente, com o apoio do PSD, CDS-PP, MPT e PPM, de várias forças e pessoas da sociedade. «São quatro partidos para já, mas deverá haver mais apoios, porque é uma candidatura de convergência, com um interesse único que é defender os interesses dos olhanenses», reafirmou.
Quanto à atual presidente da concelhia socialista, Luciano de Jesus contesta as afirmações daquela militante. «Só posso dizer que, quando diz que as minhas declarações são falsas, não são. Quando ela diz que quatro elementos do secretariado se mantêm é mentira. Só se mantém um único elemento do secretariado anterior que é ela, porque os outros demitiram-se todos. Há duas inerências: o presidente da JS do Algarve e da JS de Olhão, que nem direito a voto têm», resumiu.
Esmeralda Ramires, por sua vez, nega estar à espera de um cargo. «Sei que, sem perspetiva de compensação, esta atitude é incompreensível para muitos, em especial para os que vêm no exercício de tais funções um caminho de ascensão, nem que para tal posterguem os seus ideais em troca de cargos».
Para já, Luciano de Jesus quer encerrar o assunto, dizendo que se vai concentrar no programa que vai «oferecer à população» e que primará pela «proximidade com as pessoas, que é o que «tem feito na Junta de Freguesia de Olhão. Defende também programas «sérios e exequíveis», concluiu.
«Sim, juntos por Olhão» apresenta-se no domingo, 2 de julho
A apresentação pública da candidatura às eleições autárquicas 2017 «Sim, juntos por Olhão», liderada por Luciano Jesus, terá lugar num jantar a realizar no hoje, domingo, dia 2 de julho, pelas 20 horas, no Restaurante «o Franguinho», na EN 125, em Olhão.
«O evento será aberto a toda a sociedade civil, a todos quantos queiram apoiar um projeto de mudança para Olhão, de todos e para todos, alicerçado numa coligação abrangente e plural. Lançada de forma independente por Luciano Jesus, a candidatura angariou, de forma imediata e espontânea, os apoios de outras forças políticas (PSD, CDS-PP, MPT e PPM), que abdicaram de apresentar candidaturas próprias, ingressando confiantes num projeto pluralista e de convergência para Olhão», revela a coligação em nota enviada à imprensa.
O preço por participante é de 12 euros e a reserva de bilhetes deve ser feita através dos contactos 967 310 895 ou 919 858 483.