O presidente da Câmara Municipal de Lagoa Francisco Martins é o candidato à liderança da Comissão Política Concelhia do Partido Socialista (PS), cujas eleições estão agendadas para 7 de setembro.
Apesar de no início deste ano o autarca ter afirmado ao «barlavento» que não estava disponível para ser o cabeça de lista, as conversas que tem tido a nível local e regional fizeram com que mudasse de ideias. Há, porém, uma outra justificação para esta decisão. Segundo avança ao «barlavento» há um conjunto de pessoas disponíveis para levar a cabo um «projeto de revitalização do PS em Lagoa», tendo em conta o que o autarca sempre defendeu no que toca a não misturar o que se passa na estrutura com o exercício do poder. Ainda que admita que é difícil consegui-lo. Por haver este consenso será expetável também que apenas haja uma lista única a votos.
«Temos uma série de pessoas que têm vindo a aderir ao partido, pessoas muito interessantes e, então, resolvemos entre nós criar este projeto», justifica Francisco Martins, acrescentando que mesmo quando não estava na direção foi sempre ouvida a sua voz.
A próxima etapa, cujo horizonte se prolonga por dois anos, não coincide com o ciclo eleitoral, sendo, por isso, na opinião do autarca, o momento ideal para este projeto.
«Tivemos muitas pessoas envolvidas nas listas [nas últimas eleições autárquicas] e, mais de 80 por cento (sendo que algumas já vêm de há muitos anos) nunca foram militantes do Partido Socialista. Envolvem-se nos processos autárquicos, mas depois não se envolvem na vida do partido», explica. É essa faixa que, nesta primeira fase, a estrutura está a tentar captar e envolver. De acordo com o perfil traçado por Francisco Martins a maioria são jovens, quer na idade, quer no tempo de residência no concelho, mas são «uma mais-valia que, muitas vezes, acaba por não ter voz dentro do partido», por não serem filiados. O responsável revela ainda que tem havido muita adesão e que esse é um «bom sinal», porque mostra que «há vitalidade e empenho». Apesar de autarquias e partidos serem duas vertentes distintas, quando avançou para a Câmara Municipal, há cinco anos, Francisco Martins traçou um plano para três mandatos, que tem vindo a ser desenvolvido. O concelho não se esgotará nesses 12 anos, sendo vital, por essa razão, preparar novos protagonistas e novas ideias, que continuem o futuro socialista neste território algarvio.
«O concelho continuará e, depois de mim, virá gente muito melhor do que eu, que fará um trabalho diferente do que fiz. Aliás, consegui fazer, e faço o que faço hoje, porque antes de mim estiveram outros. E esse pensamento é fundamental», defende.
A verdade é que o novo futuro do PS de Lagoa não se centrará apenas na captação de militantes, sendo também necessário afirmar a concelhia socialista no contexto regional. «Lagoa tem vindo a afirmar-se na região e no país» pelo trabalho que tem sido realizado nas autarquias, mas no que respeita à estrutura partidária, não é bem assim, considera. «Não tem esse peso. E nunca teve», mas precisa de ganhá-lo, daí surgir este grupo disposto a mudar o panorama da estrutura.
A falta deste peso levou, inclusive, a um descontentamento no seio da estrutura, motivando a que em sucessivas eleições para a direção da concelhia, pelo menos três este ano, não tenha havido sequer uma lista a votos. Não que não houvesse candidatos, mas mais para fazer valer uma posição.
«Efetivamente houve grande descontentamento da minha parte, mas também houve uma altura em que deixei de me chatear. Agora tivemos cá o Presidente da República na FATACIL, um dos maiores eventos que temos em Portugal. Quanto a ministros e secretários de Estado, tem havido conversas e, às vezes, mais do que as visitas ao concelho, é mais importante termos esses canais de comunicação. Isso está cada vez melhor», sublinha Francisco Martins.
O autarca, no início desta semana, ainda não tinha formalizado a lista, pois o PS só enviou o caderno eleitoral definitivo na segunda-feira, 27 de agosto, mas contará com os militantes para dar corpo a esta revitalização da concelhia.
Falta de vertente pedagógica pode prejudicar política
Francisco Martins, enquanto presidente da Câmara Municipal de Lagoa, tem percebido que há uma mudança da proximidade entre poder local e os jovens, até porque nota que há quem se interesse por saber o que a política e a vida autárquica envolve.
«No meu tempo, não havia essa proximidade. Agora é curioso que muitos dizem que querem ser presidentes de Câmara. Fico satisfeito por isso, porque efetivamente desperta na juventude alguma noção do que é isto. Têm já uma perspetiva diferente do que a minha geração teve. E a geração depois de mim, pior ainda, porque nessa altura houve um afastamento muito, muito grande. Lembro-me que, nesses tempos, se pensava, quando aparecia um jovem nas estruturas partidárias, que este era considerado uma ameaça». No entender de Francisco Martins, candidato nas próximas eleições à Comissão Política Concelhia do PS de Lagoa, não deveria ter sido esta a perspetiva e esse foi um dos fatores que levou ao afastamento da sociedade e, em particular, dos jovens.
«Hoje é fundamental, nas estruturas partidárias, haver esta vertente pedagógica. Temos que ensinar o que é isto. Antigamente, nós víamos o poder, mas não o vivíamos, não o sentíamos, não nos envolvíamos. Era algo distante e quase superior. Esta realidade tem vindo a mudar, mas também tem mudado algo que é negativo», acredita. Se antes não havia a informação, hoje há mais desinformação, causada sobretudo pelas redes sociais. «Muitas vezes, formamos opinião, mas completamente errada. Opina-se mal, divulgam-se asneiras, acompanhadas por comentários que as reforçam. Claro que quem está de fora pensa, se calhar é mesmo assim. Também nos compete a nós partidos políticos, independentemente das doutrinas de cada um, explicar. O problema é que os políticos, algumas vezes, por uma questão eleitoralista, preferem não desmontar uma má informação e alimentá-la», critica. Esta forma de ver a política prejudica todos, no ponto de vista do cabeça de lista, «quer quem está agora no poder, quer quem está na oposição, pessoas que daqui por uns anos até podem estar no poder».
Por isso, esta realidade deveria ser desmontada, sem alimentar a difamação e a contra-informação, afirma. «Não contribui para uma sociedade melhor informada, que se quer mais participativa. Quanto mais limpas e puras são as situações, mais nos atraem. Portanto, se vamos passar a vida inteira a dizer que isto é tudo um pântano, ninguém quer vir para cá», justifica. O que não significa também que sejam branqueadas as situações que estão menos corretas. É nestes pilares que assenta também o projeto de revitalização do PS de Lagoa.