O deputado Cristóvão Norte, eleito pelo Partido Social Democrata (PSD) no círculo eleitoral de Faro, defendeu, na semana passada, que «o governo tem que eleger o Algarve como a prioridade nacional da saúde», pois «há muito que tem os piores números, sendo as queixas também a expressão de dor e desespero, ignoradas levianamente».
Em causa está, sobretudo, um relatório de produção clínica do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) que reporta quebras nas cirurgias programadas, no que diz respeito aos primeiros meses do ano. O deputado do PSD confrontou o ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes com as informações deste documento, mas o governante admitiu não o conhecer.
«O ministro não conhecia o relatório e eu tive de interpelar a mesa, durante o debate, para lho poder dar. O documento mostra que, até abril, foram efetuadas menos 21 por cento das cirurgias programadas, oito por cento nas externas, menos seis por cento nas primeiras consultas e nas subsequentes», registando-se ainda «um aumento de oito pontos percentuais nos óbitos registados no internamento e nas urgências hospitalares e básicas», disse quando contactado pelo «barlavento».
São «quebras inacreditáveis nos hospitais do Algarve, para as quais não encontro explicação. Isto significa que uma em cada cinco cirurgias não está a ser feita. Nos últimos anos temos tidos mais turistas e mais pessoas a escolher viver no Algarve. Hoje, fazer 5000 cirurgias representa 4500 há seis ou sete anos. E ninguém consegue dar uma explicação. É o desnorte completo», acusa o parlamentar.
Esta situação até poderia ser uma consequência da deslocação destas cirurgias para o privado ao abrigo do programa do governo para diminuir listas de espera, mas o social-democrata refere também que a «quebra nos privados externos é de 8,36 por cento», por isso essa não deverá ser uma das razões.
Outro dos motivos de preocupação é o crescimento das queixas nos centros de saúde, com mais 103 por cento no Algarve, disparando de 2762 para 5596 reclamações, segundo os dados da Entidade Reguladora da Saúde (ERS). Este aumento não é acompanhado a nível nacional, onde foi verificado um crescimento de 18 por cento. Aliás, Portimão que era um dos centros de saúde com menor número de reclamações, passou agora para o que reúne mais protestos de utentes. Nos primeiros dez da lista divulgada pela ERS contam ainda Albufeira, em terceiro, e Faro, em oitavo, como assegurou Cristóvão Norte. Estes não «são os centros que servem mais população, o que é ainda mais grave», acrescentou. Neste âmbito, só a unidade de Faro do CHUA sofreu um aumento de 142 por cento, num ano, no que toca às reclamações de utentes do Serviço Nacional de Saúde.
«O que estes dados me dizem é que três anos depois [a saúde] está muito pior do que em 2015. Aliás, o governo está a investir, por ano, na reparação de equipamentos, menos do que no tempo da troika», argumentou.
Outra das informações que o deputado considera ter sido uma «bofetada» para os algarvios, é o anúncio da construção de um novo hospital público no arquipélago da Madeira, em vez do Hospital Central do Algarve, que ocupava o segundo lugar num estudo de 2006, elaborado pelo governo, que definia as prioridades a nível destas infraestruturas.
A primeira pedra do Hospital Central do Algarve chegou a ser lançada em 2008 pelo primeiro-ministro à data José Sócrates. Os concursos não foram concluídos, tendo o processo parado em 2009. Em 2011, foi suspenso em memorando da troika, tal como as restantes obras públicas.
O que o social-democrata crítica é o facto de agora o governo ter decidido lançar quatro hospitais (Lisboa, Évora, Seixal e Sintra), dos quais três estavam na listagem abaixo do Algarve ou nem tinham sido estudados. O deputado não se resigna por o Algarve não ter sido escolhido, quando já foi anunciada, na semana passada, um novo hospital na Madeira.
A região algarvia ficará para a próxima legislatura. «Não me conformei com a injustiça, pois fazendo-se investimento a ordem das prioridades tinha que ser respeitada. Já anunciaram cinco hospitais e o Algarve, que estava em segundo, ficou de fora. O hospital serviria para elevar o nível, oferecer condições, porque estamos em sobrelotação permanente. Todos os dias [as unidades] têm 20 ou 30 pessoas internadas na observação. E a culpa não é da administração», concluiu o deputado.