A tragédia de Monchique era previsível. No final de outubro de 2017, após a catástrofe, escrevi que as medidas anunciadas pelo governo eram positivas, mas não evitariam as chamas no futuro. Iriam apenas reduzir o impacte, porque se focam nas consequências e não nas causas. A principal causa é o preço pago pela madeira destinada à indústria do papel e também da cortiça. O preço já é baixo. Mas após os incêndios, cai para 1/4 ou menos do valor nominal. Isto porque há um cartel forte numa, e um quase-monopólio na outra. E não faltam interessados nos preços baixos.
Por outro lado, são precisos novos meios de prevenção mais baratos. Hoje há tecnologias muito acessíveis, como câmaras panorâmicas que podem ser instaladas em postes finos de compósito, no pico das serras e em locais estratégicos nas florestas, a fazer vigilância permanente. Uma rede integrada pode mostrar imagens de vários locais críticos, em tempo real. Um software simples pode ler dados como a velocidade e orientação dos ventos, e o nível de humidade nas principais zonas de risco, e enviar alertas precoces aos bombeiros antes que tudo arda! Também o uso de drones para vigilância diária é mais barato do que pagar 50 milhões anuais ao cartel dos meios aéreos.
Sugestões como estas chegaram aos deputados em Lisboa e aos ministérios, pelo menos, desde 2013, quando dei uma palestra para a Proteção Civil. Mas no alto comando continuam os exímios na retórica do «teatro de operações». Dizem quantos homens e meios foram mobilizados, mas não dizem o que lhes mandaram fazer para evitar a catástrofe. No final, são os cidadãos anónimos que ardem, morrem e perdem tudo. O saber do cidadão local e dos especialistas não vale mais do que o euro do especulador, a vaidade do político e o sensacionalismo televisivo. Ministro: por favor, ouça desta vez!
Jack Soifer é consultor internacional e tem vários livros publicados sobre empreendedorismo