Nos últimos quarenta anos de eleições livres em Portugal houve muito que mudou. Nem tudo piorou, embora o zoom diário e a conjuntura pública das semanas nos faça ver o universo político dessa forma.
Numa única semana, sete dias, vemos o protótipo de anti-político que se «esquece» de declarar interesses na Selminho ao Tribunal Constitucional, conhecemos os tentáculos do apelido vindo dos Açores (aquele que pensa que no nosso Algarve é só praia e «férias»), que defende a função pública com unhas e dentes, espalhando familiares por diversos cargos do arquipélago à capital do país.
São ainda os ajustes do Ministério da Educação nas zonas carenciadas de escola pública que favorecem conhecidos do aparelho, é o ano e meio de ausência de delegados regionais de educação (no Algarve também!) talvez pelos resultados dos concursos não agradarem à secretária de Estado, são os míseros oito dias de chefia das Secretas e, ainda, os assessores que passam diretamente a administradores da maior transportadora aérea portuguesa por simpatia pessoal.
É esta a «credibilização» da classe política que entrou pela nossa casa dentro sem pedir licença.
Numa altura em que cada vez mais se resume politicamente o sinónimo de «esperança» em «Reforma do Sistema Político, já!» é fundamental repensar na reforma dos partidos políticos, também, e sem medos de afrontar os acomodados.
Não é a maioria que está errada, nunca será.
O afastamento dos portugueses da classe política obriga-nos a refundar a credibilidade de todo o sistema da «politeia» atual, mas como o grego Platão descreveu no século IV (a.C.) e não como Sócrates (o português!) desbaratou em pleno século XXI.
Sabendo que o caminho da evolução tem de passar por este conjunto de reformas políticas, e em virtude da instabilidade gerada na seriedade desta classe aos dias de hoje, mas provocada pelo desgaste de quatro décadas de democracia, urge focar as estruturas político-partidárias na formação política.
Formar.
Formar para que seja possível preparar qualquer cidadão no substanciar do seu interesse em participar civicamente na ação da sua Freguesia, concelho, distrito ou país.
Mas há vários entraves ao interesse pela participação cívica dos mais jovens.
Desde os casos mediáticos que são prova cabal da ausência de credibilidade de determinados agentes políticos de destaque, ao total «desencanto» de uma geração carente de líderes, de personalidades carismáticas e verticais na sociedade como Cunhal, Sá Carneiro ou Mário Soares estiveram para os nossos pais ou avós.
Mas, na minha opinião, o maior entrave é a clara escassez de vontade, de ambição política em colocar como prioridade a Reforma não só do Sistema Político como de vários setores que estagnaram entre a década de 80 e de 90.
O que também parou no tempo em décadas mais recentes ou foi invertido nas prioridades dos partidos políticos, é ter por base e não por acessório a utilidade no ensinamento da cidadania.
Hoje vivemos num bloqueio geracional provocado pela ausência de conhecimento por falta formação política e cívica. Grande parte da juventude portuguesa desconhece como pode efetivar o seu contributo com propostas pelas suas terras.
E que jovem, sério e honesto, pretende ser Autarca no seu concelho se não sabe como pode fazer a diferença?
As estruturas políticas são quem tem maior responsabilidade nesta matéria. A JSD/Algarve tem vindo a percorrer um caminho de clara aposta na formação política. Não é de hoje nem é porque estamos a meio caminho das urnas de voto. E nesta fase, queremos que a JSD tenha utilidade cívica para a juventude algarvia.
«Formar Jovens Autarcas Algarvios» é o mote. Serão três sessões temáticas subordinadas, às Juntas de Freguesia (já este sábado, dia 17 de junho) e posteriormente às Assembleias e às Câmaras Municipais.
Saber quais são as competências de um executivo da Junta de Freguesia ou onde já é domínio do executivo camarário, conhecer até onde vai o papel e responsabilidade do presidente de uma Assembleia Municipal, por exemplo, em três formações com a participação e experiência de vários autarcas regionais.
Capacitar a nossa juventude.
É essa a missão que tem de guiar as estruturas políticas de juventude e, neste caso, a JSD, sem discutir banalmente quotas, mas valorizando os nossos quadros e potenciando a sua possibilidade em, por mérito, poderem ser jovens autarcas e contribuir para os seus concelhos.
Formar a base do mérito e manter a esperança, por capacidade e trabalho, em que surjam líderes para esta região e para o nosso país.