Quando me sentei (digamos assim) para escrever a primeira destas crónicas, decidi que iriam versar sobretudo sobre o Algarve e a literatura que aqui se faz (ou se fez). Desta forma, ao longo das primeiras crónicas, fui citando e indicando escritores, falando ao mesmo tempo do Algarve e de mim.
Estou a escrever de memória, esta é apenas uma forma de começar, e é pouco importante confirmar o que digo, lendo e citando, por exemplo, a primeira destas crónicas. Do que tenho a certeza é que «Da minha janela vê-se o Algarve» fala desta minha funda convicção de que estou a sul e, sendo escritor, é natural que livros e escritores a sul entrem também nestas crónicas.
Às vezes, sobretudo nas últimas crónicas, tenha falado mais de mim, quer porque me canso amiúde do Algarve e da literatura, quer porque outras questões me invadem a escrita, simples questões pessoais, questões menores de todos os dias.
Tem-se falado, aqui e ali, da «cena literária algarvia», de como está viva ou morta ou moribunda, segundo os diversos pontos de vista. Confesso que pouco sei do seu estado de saúde, o que é já dizer que reconheço pelo menos a sua existência, ainda que como alguém que se conhece de vista.
Logo à partida, confesso que quando falo de Algarve, quando falo do «meu Algarve», falo muito mais do Sotavento do que do Barlavento. Existe uma divisão que não é clara para mim entre o Sotavento e o Barlavento, menos visível do que aquela que separa o Algarve do Alentejo, mas não menos real, e o retorno das portagens na Via do Infante não ajudou em nada a diminuir essa barreira invisível.
Mas voltando à «cena literária» algarvia, talvez se deva começar por trocar por miúdos essa expressão. Talvez prefira «panorama literário», mas num ou noutro caso, penso que passará por avaliar, num dado momento e num dado espaço geográfico, que autores existem, mas também que editoras existem, que livrarias e bibliotecas existem e até que leitores existem.
Deste ponto de vista, a saúde da dita cuja «cena literária Algarvia» dependerá do número de editoras existentes no Algarve, do número de autores residentes no Algarve e por aí adiante. Digo do número, mas também da qualidade, como é óbvio. Assim, não basta ditar sentenças (está morta, delirante, moribunda, exuberante…) mais ou menos esdrúxulas, mas sim desenvolver análises honestas e esclarecidas, apresentando factos e opiniões neles assentes.
Como já devem ter percebido não vou «cagar sentenças» sobre a «cena literária algarvia», reservando–me para uma investigação mais demorada e profícua antes de concluir o que quer que seja. Se me quiserem ajudar, enviem-me as vossas análises, sugestões, número e opiniões que eu desde já agradeço.
A terminar, uma anedota (anónima) que me contaram por estes dias: «Um cão vem de férias para o Algarve. Encontra um gato e, dirigindo-se a ele diz: – Au-au! E o gato: – Au-au! Pergunta o cão:- Au-au?! Mas tu não devias fazer miau?! Responde o gato:-Aqui no Algarve, quem não sabe mais que uma língua está lixado!»…