Jorge Kalukembe é o pseudónimo de Jorge Manuel Rodrigues de Jesus, nascido em Angola há 43 anos, e vivendo, desde sempre, entre aquele país africano e Portugal, tendo-se fixado em Portimão há três anos.
O nome Kalukembe foi-lhe dado pelos seus conterrâneos, durante o seu percurso em Angola, em defesa dos Direitos Humanos. Irá apresentar publicamente o seu ensaio geopolítico «Da Crise ao Colapso Democrático», no dia 16 de dezembro, às 15h30, na Biblioteca Municipal Manuel Teixeira Gomes, em Portimão. Um livro polémico, sem dúvida, que foi o motivo da nossa conversa com o autor que faz parte da quinta geração africana de uma família madeirense.
«A minha tetravó fundou uma das cidades mais bonitas de Angola, Sá da Bandeira, em 19 de janeiro de 1884. Fez parte dos 222 colonos madeirenses que fizeram uma viagem marítima de cinco semanas para irem ocupar essas terras, quando o Direito Internacional mudou e decretou que pertenciam a quem efetivamente as ocupasse com pessoas». É esse o tema do seu romance histórico «Chicoronho».
Recusa ser apelidado de intelectual, porque «seria uma arrogância da minha parte, uma vez que o verdadeiro intelectual vive essa condição a toda a hora e eu sou obrigado a partilhar a investigação com a parte empresarial, sem descurar os papéis de pai e esposo». Jorge Kalukembe perfilha uma formação holística, porque a ciência é multidisciplinar e «uma pessoa não pode limitar-se a saber apenas uma matéria». Defende fervorosamente as suas convicções, que chegam a roçar a utopia no campo político.
«A História prova que há o risco de desaparecimento das democracias ocidentais. A especulação financeira não foi reduzida, modificada ou combatida. Temos alguns bancos americanos com lucros superiores a 2008. Já foram injetados no sistema financeiro ocidental sete triliões de dólares (terminologia americana). Esse dinheiro não entrou para a economia, para o dia a dia; foi para o sistema financeiro. Considero que continuamos com um risco muito grande de desemprego em larga escala, famílias a perder as casas para os bancos, entre outras consequências. E as pessoas vão estar de tal modo frustradas com uma classe política que, mais uma vez, mentiu descaradamente, mais uma vez se governou e o povo que se lixe que, se aparecer um populista a garantir pão na mesa e empregos, as pessoas votarão nele. É aqui que as ditaduras podem surgir. A crise é perigosa e repare que, na França e na Alemanha, a extrema-direita já é a terceira força política mais votada. A Holanda e a Áustria vão no mesmo caminho. É só olhar à nossa volta. Tanto a extrema-direita, como a extrema-esquerda, estão a ganhar peso. E qualquer delas pode levar à ditadura, porque não acreditam em processos democráticos».
Jorge Kalukembe diz que «nunca houve tanto dinheiro a circular como agora, mas ficou concentrado num número cada vez mais reduzido de pessoas. Estamos a viver a maior desigualdade desde a crise de 1929. Nos EUA, por exemplo, um por cento da população possui trinta por cento de toda a riqueza. Nos anos 1960, de profunda justiça social, os impostos cobrados aos mais ricos rondavam os 70 por cento da totalidade; hoje, não passam dos 40 por cento. Esta é outra razão para a democracia estar em risco. E não pensem que isto é pensamento de esquerda. É pensamento de direita, porque nós defendemos que, quem mais tem, mais deve pagar. A democracia desenvolveu-se, ao longo dos últimos 50 anos, porque propôs aos povos o Estado Social, uma das maiores revoluções na história da Humanidade: educação para todos, acesso à saúde para todos, subsídios de desemprego, melhor distribuição da riqueza, com os aumentos salariais a acompanhar o aumento dos lucros das empresas. Atualmente, há divergência: o lucro nunca foi tão grande e a massa salarial está em queda».
O angolano refere-se, no seu ensaio, aos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e ao Banco Mundial BRICS, ao qual já aderiram mais de 100 países. «Estamos a assistir a uma guerra cambial contra o dólar, mas que pode ser também prejudicial para a Europa. A China está a tecer uma estratégia comercial para atrelar um conjunto de países asiáticos aos seus interesses económicos. Pretende que a sua moeda venha a substituir o dólar nas transações internacionais. A dívida dos Estados Unidos é de vinte triliões de dólares e muita dela está na mão dos chineses. O dólar só se mantém, porque é usado em mais de 60 por cento das transações mundiais. Mas, quando isto se inverter, vamos ter perturbações de tal ordem, que a situação pode ficar fora de controlo. Em contrapartida, a China está a livrar-se dos seus ativos na moeda americana, comprando ouro. É o maior comprador mundial, desde 2012, além do maior produtor mundial, com 400 toneladas extraídas nos últimos anos. E irá exigir que uma parte significativa do comércio mundial passe a ser efetuada na sua moeda. Há dois meses, tomou uma posição interessante: os parceiros comerciais da China que tenham medo de guardar a moeda chinesa nos seus cofres, podem trocá-la por ouro», explica.
Outras afirmações desenvolvidas no livro são, para dar dois exemplos, «Os políticos de hoje são os aristocratas de ontem, vivem na opulência, sacrificando o povo» e «A crise financeira é consequência da crise energética».
A terminar a já longa conversa, conseguimos que Jorge Kalukembe, cuja postura é de político, embora deteste a classe política, revele ao «barlavento» quais os ganhos pessoais que espera obter com este ensaio.
«É sempre para mim grande satisfação, quando vejo que as pessoas gostam do que escrevo e reconhecem que pode ter alguma utilidade. É o ganho do meu ego. Por outro lado, pretendo encontrar um conjunto de pessoas que pensem como eu e que consiga congregar. Talvez, em conjunto, possamos ter a determinação para criar um partido político no campo ideológico da direita conservadora».
Jorge Kalukembe
Licenciatura em Geografia, Mestrado em Ciências da Educação, Pós-graduação em Direção Hoteleira, Certificação como Formador, Curso de Especialização em Transporte e Mobilidade, Curso de Especialização em Empreendedorismo e Criação de Empresas. Participação em inúmeros seminários e conferências, essencialmente sobre Direitos Humanos, Educação, Planeamento e Turismo. Publicou «Educação Pilar Soberania Caminho do Desenvolvimento» (2007), romance histórico «Chicoronho» (2009), o ensaio «Angola e Mundo na esfera pós-petróleo» (2011), o «Guia Turístico para Angola» (2012) e o ensaio geopolítico «Da Crise ao Colapso Democrático» (2016). Foi coautor e coordenador científico-pedagógico de três guias de aprendizagem de Geografia para o 3º Ciclo do Ensino Básico. Cofundador do Fórum Angolano para Conhecimento Competitivo, Inovação e Desenvolvimento, em 2001, no qual foi Diretor de Educação e, entre 2002 e 2006, Vice-presidente eleito para a Investigação, Inovação e Educação. É consultor de empresas e coach de franchising, principalmente na área do investimento em ouro. Sócio-gerente e fundador da Kumbu-Negócios e Franchising.