João Segurado, deve ter música no sangue, se não forem apenas notas musicais e compassos o que lhe corre nas veias. Compositor e músico teve o seu período de maior produção de temas em meados dos anos 1980. Mas, porque as facilidades para gravar estavam muito aquém das atuais, as suas obras, que chegam para encher dois álbuns, ficaram na gaveta. Contudo, a sua profissão não tem nada a ver com a vocação, pois está virada à contabilidade e tesouraria.
«Se vivesse da música, já tinha morrido à fome. Eu sou funcionário público, mas daqueles que trabalham. Trabalho na Junta de Freguesia de Portimão, desde 1979, tenho 63 anos, quero reformar-me, mas não me deixam». Risos. «A música é um hobby profissional».
Este sexagenário começou na música por acaso, com 15 ou 16 anos, numa récita do liceu.
«O meu pai comprou-me uma guitarra e um amplificador, ao mesmo tempo que um amigo meu e grande músico, o Manuel da Avó. Começámos os dois a ensaiar para formar um conjunto. Depois, veio a récita do liceu, fui cantar e, a partir daí, nunca mais parei, fazendo parte de vários grupos. Nos anos 80, formei uma banda chamada Crise, com o Vasco Moura, o Victor Talhadas, o Victor Santos, o Zé Pinto e o Rui Correia, com inéditos. Fizemos alguns concertos em Lagos e Portimão. Pensámos em gravar, mas não nos deixaram. Mandámos as demos para Lisboa e disseram-nos que, se fossemos um grupo de Lisboa, eram boas. Mas nós éramos desconhecidos, não valia a pena. Ficaram no frigorífico, mas este ano devo gravá-las. E vou tentar que todos os músicos que já tocaram comigo participem, incluindo um deles em cada música».
Em 2009, João Segurado estava em plena atuação, na zona ribeirinha de Portimão, quando a doença o acometeu. «Senti que não conseguia fazer certos acordes e foi-me detetado Parkinson. Foi um período horrível, quase dois anos, em que não podia tocar. Saía do trabalho e fechava-me em casa a ver televisão, ou dormia. Não fazia mais nada, porque me sentia mal. Mas está controlado, agora, graças ao professor Castro Caldas. Estou medicado e ando feliz, porque consigo fazer aquilo de que gosto: tocar guitarra».
Neste momento, tem o que chama «uma firma familiar», ou seja, uma banda com os seus dois filhos, mais o baterista Renato e a filha, com um projeto chamado Seventies Rush, em que fazem música dos anos 1960 e 70 e que se divide em dois.
«Um chama-se Come together – a night with the Beatles, que foi um sucesso, recentemente, no TEMPO, com mais de quatro centenas de pessoas a aplaudir 42 músicas do famoso grupo inglês. O outro é de blues». O grupo desdobra-se, em função do tipo de música e de espaço que têm para atuar. Chega a tocar só com um dos filhos, em bares, onde o espaço é restrito. E o João Segurado não tem problemas em tocar outro tipo de músicas, se a situação o exigir. «Ainda pelo Natal toquei músicas alusivas à época, na Alameda, com um contrabaixista. Eu gosto de tocar tudo, desde que seja bom». Os seus filhos iniciaram-se na música aos cinco anos, na Academia de Música de Lagos, em piano, formação musical e coro.
«O mais velho tirou o curso de professor de música e o mais novo enveredou pela tradução, mas continua com o bichinho da música e adora Beatles e Paul McCartney. Sempre ouviu boa música em casa, porque tenho 500 LPs em vinil. Foi para ele que fiz o projeto Come together, porque gosto muito de ouvi-lo cantar. Ambos cantam bem e tenho muito orgulho neles». O nosso convidado não deixa nada ao acaso, quando se trata de música. Preocupa-se com os mais ínfimos pormenores, «para que as pessoas que vão ouvir escutem música com qualidade e é isso que tenho transmitido ao longo da minha carreira». João Segurado coloca a sua versatilidade e disponibilidade permanentes ao serviço da comunidade, espontaneamente e sem ser necessário pedir-lhe. Foi assim que se tornou presidente do Clube União Portimonense, para que a coletividade não fechasse as portas.