Para se chegar ao campeonato mundial, é necessário classificar-se entre os cinco melhores nacionais, através da junção de resultados das provas do campeonato nacional e das provas de seleção. A atleta partiu de Portugal na terceira posição do ranking nacional. Como foi a melhor portuguesa, melhorou a sua posição. Numa competição com 281 velejadores de 62 países, dos quais 67 eram raparigas, Beatriz (Bia) chegou ao fim dos três dias de seleção na categoria «ouro», a mais elevada de quatro (ouro, prata, bronze e esmeralda), como a primeira em femininos e a 18ª da geral.
«Na fase final, que deveria ter sido disputada durante três dias, a falta de vento apenas permitiu competir no segundo dia. Estava um pouco nervosa, tirei um mau resultado na primeira prova, entrei em stress e não fui capaz de me recompor. Fez-me falta o meu treinador, o Frederico Rato, que estava como team leader e, por isso, não me podia acompanhar no mar. E não houve regatas no último dia, quando ia tentar dar o meu melhor e alcançar o pódio», disse a jovem atleta ao «barlavento», muito desiludida, apesar de ter sido a melhor nacional e a quarta melhor mundial.
O «barlavento» quis também compreender qual o papel do treinador durante este tipo de regatas. «Ajuda-nos a perceber o campo, para que lado devemos ir. Acima de tudo, dá-nos muito apoio emocional e ajuda-nos, quando estamos nervosos. E, quando erramos, ajuda-nos a encontrar soluções», disse ainda Beatriz Gago, uma jovem que ostenta os títulos femininos de bicampeã nacional em infantis e tricampeã nacional em juvenis, além de outros excelentes resultados internacionais. E que tem os Jogos Olímpicos no seu horizonte.
A viagem e tudo o que está inerente a participar num campeonato mundial, na Tailândia, não sai barato. «A minha parte custou três mil euros. Mas o Clube Naval de Portimão comparticipou com 900 euros, a Junta de Freguesia de Portimão também participou, tal como o Village e a Servilusa. Além da Companhia Náutica e do Dr. Vitor Rebelo, que todos os anos nos proporcionam um valioso contributo para que possa competir em eventos internacionais. O Salvador também realizou uma festa no Bar Tropical, onde conseguimos angariar algum dinheiro. O resto foi-nos dado pelos nossos amigos, que ajudaram também», contabilizou.
Há uns anos, Beatriz Gago disse em entrevista ao «barlavento» que tinha problemas quando havia muito vento, pois faltava-lhe a força para tirar o máximo partido do barco. Hoje, essa questão está ultrapassada «porque faço treino de ginásio e tenho cuidado com a alimentação, para manter o peso adequado. Gosto de velejar com todo o tipo de vento, embora a técnica seja diferente com pouco vento. Com muito vento, temos de ser capazes de mandar no barco e não deixar o barco mandar em nós».
Na idade limite para competir na classe optimist, a jovem atleta portimonense vai ter de mudar de barco para poder continuar a competir e a evoluir na vela, algo que lhe tem causado alguma preocupação, bem como aos pais. Contudo, uma agradável surpresa aguardava-a, no regresso da Tailândia. O Clube Naval de Portimão, o seu clube, reconhecendo o valor da velejadora e os louros que trouxera à instituição, colocou à sua disposição um laser, barco maior, de proa pontiaguda, vela maior e triangular, de classe olímpica, apesar de continuar a ser apenas para um único tripulante.
«Estou muito grata ao clube e, agora, vai começar tudo de novo, porque vai exigir mais força e técnicas diferentes. Vai voltar a ser difícil para mim, no início, andar com vento», disse-nos, a sorrir, esta jovem que se iniciou na modalidade aos sete anos. «Gostaria de ir, um dia, aos Jogos Olímpicos, mas sei que é difícil. E também quero continuar com os meus estudos, embora ainda não tenha decidido exatamente qual o curso a seguir. Ainda tenho tempo para pensar».