Joana Godinho será a rainha Dido, na ópera barroca Dido & Aeneas, em cena nos dias 3 de março e 30 de abril, no Auditório Municipal de Lagoa.
Esta lacobrigense, cantora lírica e professora de canto, será, por conseguinte, a voz feminina principal, num espetáculo internacional, fruto de uma parceria entre a Academia de Música de Lagos, o Koninklijk Conservatório Den Haag, da Holanda, que integra vários cantores portugueses, e a Escola Artística Soares dos Reis, do Porto, que trata dos adereços, cenários e figurinos.
A carreira de Joana Godinho começou quando terminou o 9º ano e teve de fazer escolhas para o futuro. «Lembro-me de passar os fins de semana a ouvir música no gira-discos da minha mãe. O meu avô gostava muito de ópera. O meu pai adorava jazz. Sempre convivi com a música, colocava os discos e cantava por cima. Por isso, optei pela música, na Escola Gil Eanes, porque era algo por que sempre me interessara. Tive como professora Cândida Matos, atual professora de cravo no Conservatório Nacional», explicou ao «barlavento».
Mais tarde, juntou-se ao Grupo Coral de Lagos, mas continuou os estudos de música na escola, em parceria com a Academia de Música de Lagos. Disse ao pai que desejava seguir a vertente profissional. Como não havia grande oferta de escolas profissionais de música, no Algarve, acabou por ir para Évora, aos 15 anos, para continuar os estudos. «Estudei violoncelo, até ao 8º grau, na Escola Profissional de Música e, ao mesmo tempo, o canto, na Academia de Música Eborense. Na altura, era obrigatório estudarmos um instrumento e tive de fazê-lo, embora sempre considerasse o canto o meu instrumento. Acabei o curso e ingressei na licenciatura, na Universidade de Évora. Tenho frequentado vários workshops e masterclasses, até aos dias de hoje.
Regressei, depois, a Lagos e à Academia, já como professora», resumiu.
Na sua cidade natal, Joana Godinho ensina canto lírico, a nível de cursos oficiais, mas tem muitos alunos em curso livre, no qual «o repertório é à escolha do aluno com o professor. Tenho preparado alguns que enveredam pela área do jazz, da bossa nova, canção ligeira, assim como muitos alunos fadistas». «Tenho estudantes que já são cantores profissionais, alguns a fazer o seu percurso lá fora, mas mantenho o contacto. Gosto de sentir que estou a dar o meu contributo musical para o crescimento de outras pessoas». Espera, no futuro, continuar a ensinar, em simultâneo com a interpretação, principalmente música de câmara, porque a música barroca é a sua grande paixão. Questionada sobre se há trabalho suficiente em Portugal, no campo do canto lírico, esclareceu que «o governo deixou de investir na cultura.
Quando há uma crise financeira, corta-se na cultura, em primeiro lugar. Mas a cultura é muito importante para as pessoas. Desde que existe o Homem como ser pensante, existe a expressão artística. Há mais oportunidades, no caso de Lisboa e Porto. Nas periferias, não há tantas oportunidades como gostaríamos, mas também depende de nós, de tomarmos a iniciativa e tentar fazer projetos novos. A Academia de Música de Lagos destaca-se pela sua proactividade».
Sobre «Dido & Aeneas»
«É uma produção de raiz, porque temos uma equipa de produção artística fantástica. É uma ópera barroca baseada na «Eneida» do Virgílio, a história do príncipe Aeneas, expulso pela guerra de Tróia, o qual, a caminho da fundação de Roma, para em Cartago e tem um romance com a rainha Dido. Mas é obrigado pelos deuses a abandoná-la e Dido vem a morrer de desgosto de amor. É uma peça muito bonita e vamos ter um maestro fantástico da Holanda e coros holandeses. Os músicos são portugueses, cantores portugueses e holandeses. Aeneas será interpretado pelo excelente cantor belga Jan van Elsacker, radicado na Holanda. O maestro tem um excelente currículo e é
uma oportunidade fantástica montar este projeto no Algarve», sublinhou a cantora Joana Godinho ao «barlavento».