Raquel Taquelim d’Almeida, a caminho dos 28 anos de idade, só não nasceu no Algarve por acaso. Toda a sua família, tanto materna como paterna, é algarvia e viveu na região a maior parte da sua vida.
Filha do artista plástico Emanuel de Almeida, foi criada num ambiente cultural, onde pontificavam a pintura, a música e a ópera. Cursou artes plásticas na Universidade do Algarve, durante um ano. Insatisfeita, mudou para Évora, onde, durante dois anos, frequentou artes plásticas e multimédia. De seguida, fez um curso de pintura, quatro anos, na Escola de Belas-Artes, complementado por um Erasmus na reputada universidade de Groningen, na Holanda.
Versando pintura, cerâmica, escultura e tapeçaria, já participou em várias exposições. As mais importantes foram no Museu dos Lanifícios em Portalegre, dois anos consecutivos. Também duas vezes, nos Salons des Artistes du Hurepoix, em Paris, onde um dos seus quadros fez capa do convite da exposição coletiva.
«Fiquei conhecida na universidade de Gronigen por usar os desperdícios dos outros para os meus trabalhos. Para as tapeçarias, uso sobras, ideais para trabalhar, porque me dão uma paleta de cores, como na pintura. Na escultura, usava os restos do ferro e do arame usado pelos outros alunos. Na pintura, não compro telas. Pinto sobre madeira. Para os quadros da séria Ruas, usava caixas de cartão, que obtinha nas lojas. Para viajar, fechava os cartões, voltando a dar-lhes a forma de caixa, com a pintura na parte interior. E colocava a roupa lá dentro», conta ao «barlavento».
Para o projeto Ruas, Raquel sai com o seu bloco e os carvões, visita vários locais e faz esboços. «Depois, junto-os como se fossem um puzzle, ligando, por exemplo, uma linha de uma rua de Tomar com outra do Porto. Ficam quadros muito bonitos».
A jovem artista regressou a Portimão e, embora pretenda viver exclusivamente da sua arte, como o pai, tal ainda não é possível. Por isso, arranjou emprego como trintanária (ver caixa abaixo). Entretanto, tem uma exposição na pastelaria Arade, na Baixa de Portimão, que nos despertou o interesse em conhecer a pintora. Porquê? Porque escolheu um modelo feminino obeso e os rostos são inexistentes. «Também faço retrato e acho que devo separar as coisas. Neste caso, temos a gordura e não é necessário saber se a pessoa tem olhos verdes ou azuis, se é loira ou morena. O conteúdo está no corpo da pessoa, nas roscas, nas dobradiças das pernas, etc. Escolhi um modelo obeso, porque a pele tem vários tons, os lilases, os ultramarinos, uma paleta enorme que a gordura ou um corpo mais cheio nos dão e as pessoas magras acabam por não dar».
No retrato, segue a linha do pai e todos os pormenores estão lá. E diz que não tem preferência por um ou outro, dependendo da disposição do momento. «No retrato, estou a aprender a trabalhar com o carvão, que é um material barato, faz um trabalho extraordinário, com grande força e é intemporal».
Tem o sonho de abrir uma escola de arte, em Portimão, direcionada principalmente às pessoas de mais idade, porque adora partilhar o conhecimento e porque «acho que as artes plásticas acabam por ser terapêuticas. Mas sou contra o método limitador usado em muitas escolas. As pessoas têm de descobrir a sua maneira de pintar e o professor deve estar lá para apoiar, mas não para bloquear. Como me ensinou o meu pai, se uma pessoa fizer vários riscos, um vai estar bem. É assim que se ensina».
No dia 17 de Novembro, Raquel Taquelim d’Almeida inaugurará uma exposição de tapeçaria e escultura, na Casa Manuel Teixeira Gomes, em Portimão.
Trintanário: o que é?
A jovem Raquel Taquelim d’Almeida é a primeira trintanária em Portugal e uma das poucas em todo o mundo. Exerce funções no Hotel Pestana Alvor Praia e o «barlavento» descobriu que retira um prazer enorme das funções que desempenha e que eram, tradicionalmente, exclusivas de homens maduros.
O trintanário é figura bem visível em qualquer hotel de categoria superior, em qualquer parte do globo. Os portimonenses habituaram-se a ver tal personagem, desde os anos 1960, na Praia da Rocha, à porta do Hotel Algarve, mas poucos conhecem o nome da profissão. No início, era conhecido pela designação francesa voiturier. Mais tarde, foi adotado o termo inglês doorman. É o profissional de abas de grilo, luva branca, e cartola que se encontra no exterior da entrada do hotel, abrindo as portas e ajudando os clientes a entrar e sair de carros particulares ou táxis.
Também é responsável pelo estacionamento das viaturas dos hóspedes, quando solicitado. Profundo conhecedor da zona, está apto a indicar trajetos, locais de interesse, restaurantes ou boutiques. E coordena a ação dos bagageiros no manuseamento das bagagens, no percurso entre o exterior e o interior do hotel e vice-versa.