A última edição do programa «The Voice Portugal» revelou ao país uma jovem portimonense de 16 anos, Ana Paula Rada. Dona de uma voz maravilhosa, esta algarvia, filha de pais romenos, participou apenas por curiosidade, mas conseguiu chegar à final e ficar em segundo lugar no concurso.
Tendo cantado desde sempre temas de canto lírico, menos apetecíveis para o grande público, o seu triunfo torna-se mais importante, numa votação feita por esse mesmo público.
O «barlavento» foi procurar este talento e descobriu-o na Academia de Música de Lagos, onde estuda canto lírico com a professora Joana Godinho, que esteve presente durante a entrevista e foi convidada a participar.
No 5º ano escolar, Ana Paula Rada enveredou pelo ensino articulado e iniciou-se no piano, no Conservatório Joly Braga, em Portimão. No 7º ano, entrou para o coro e descobriu o canto lírico, que a apaixonou. No 10º ano, foi para a área de Ciências, mas juntou-lhe a disciplina de canto. No 11º, decidiu-se definitivamente pelo ensino profissional pela via do canto e pensa seguir para a universidade, nesta área.
Segundo a professora Joana Godinho, o coro, desde tenra idade, é importante para os alunos se revelarem e desenvolverem, uma vez que o estudo do canto só se inicia aos 14/15 anos, quando a voz já está formada. E o piano?
«O piano ajuda-me muito a estudar. No 11º ano, é obrigatório escolher uma disciplina de teclado. Em vez de piano, escolhi cravo, um instrumento muito bonito».
Joana Godinho diz que o instrumento, que era quase desconhecido do público, está a entrar nos concertos e que é excelente para quem canta, porque há muitas peças que pedem o seu acompanhamento. Já sobre a sua participação no «The Voice Portugal», explica que «sempre me incentivaram a entrar num programa televisivo. Eu achava que estava fora da minha linha. Nunca pensei nisso. Um dia, em abril, enquanto navegava na Internet, vi um anúncio com inscrições gratuitas para o certame e, na brincadeira, inscrevi-me. Passados dois dias, recebi um e-mail com as datas disponíveis para o primeiro casting. Não respondi. Seguiram-se outros. Estava na escola, não tinha tempo disponível e não respondia. Finalmente, recebi um ultimato a informar que dia 27 de junho era a data limite. Aceitei, fui e fiquei lá uma semana, porque me disseram logo que tinha passado e que estavam a preparar o segundo casting, dois dias depois. Passei e avancei para as provas cegas. Fui passando sempre, porque não estava muito pressionada. Estava na desportiva», conta.
A jovem admite que no início não estava muito empenhada, porque se convencera de que seria eliminada logo na primeira gala. Por isso, estava à vontade. A sua voz, contudo, acabou por cativar as audiências.
Com uma simplicidade tocante, diz que «houve vozes muito bonitas que ficaram pelo caminho, porque o seu público é muito jovem e, embora os incentivassem nas redes sociais, não tinham possibilidades de telefonar a votar. Eu consegui atingir um público acima dos 30 anos. Embora saiba que houve muitas crianças, especialmente meninas, que choraram por eu não ter conseguido vencer».
Considera que foi uma experiência muito boa e válida. «Acho que cresci muito. É um mundo diferente, conhecemos muitas pessoas novas, artistas que eram os meus ídolos e que, no contacto direto, se revelaram simplesmente pessoas, muito queridas. Mas também foi bom para perceber que o meu sítio é mesmo este, o canto lírico e os teatros, atuando ao vivo, junto do público. Quero terminar o 8º grau, para poder ir para a universidade continuar a estudar canto. E aí é que vou sentir bastante pressão, porque vai definir a minha vida», prevê.
Quisemos saber qual o papel da professora de canto nessa fase e Joana Godinho disse-nos que «foi essencialmente acalmá-la, nas fases de pânico. No início, quando ela me disse, aconselhei-a a ter calma e cuidado. Como professora, o que quero é que tenham a experiência académica, que é o que os vai fazer crescer tecnicamente. Mas no momento em que ela entrou, dei-lhe o meu apoio e aconselhei-a da melhor maneira».
O resultado obtido na televisão não subiu à cabeça da Ana Paula, nem a desviou do rumo que traçou como cantora.
No próximo dia 10 de fevereiro, poderemos vê-la e ouvi-la no TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, interpretando canções portuguesas, incluindo fado, choros brasileiros e músicas de Cabo-Verde, integrada no «VII Festival Internacional de Percussão de Portimão & ENContróBaiXo», realizada pela Academia de Música de Lagos com o apoio do Conservatório de Portimão Joly Braga Santos, entre 9 e 13
de fevereiro.
Será acompanhada pelo marimbista Vasco Ramalho, o virtuoso guitarrista brasileiro Tuniko Goulart, Edu Miranda no bandolim, Vicky Marques na bateria e Vincent Houdijk no vibrafone. Uma oportunidade para escutar esta talentosa voz algarvia a interpretar temas conhecidos, mas com sonorizações diferentes e belas.
«Vai ser um repertório um pouco diferente, de música tradicional, mas que ela vai conseguir interpretar perfeitamente e será uma boa experiência, porque ela tem a voz suficientemente flexível e bonita para se poder adaptar a outros estilos. E ser acompanhada por outros instrumentos também é bom para o seu crescimento vocal», conclui a professora Joana Godinho.