Captar a energia sob a forma de calor que existe no subsolo terrestre e utilizá-la para vários e diferentes fins à superfície é o objetivo do sistema de geotermia que está a ser montado no complexo do Ombria resort, no interior do concelho de Loulé. A instalação, que servirá para regular a temperatura no interior das infraestruturas, foi apresentada na terça-feira, 19 de junho.
De acordo com Pedro Madureira, geólogo da SYNEGE, empresa que está a fiscalizar a obra, trata-se de um «sistema vertical fechado». Isto é, composto por sondas entre os 80 a 200 metros de profundidade. «Em 2015 a empresa foi contactada por um senhor finlandês. Lançou-nos um desafio habitual nestes países do norte onde já existe tradição e know-how. Encarámos isto como algo complicado, mas para eles é apenas como instalar um ar condicionado», comparou. «A ideia era implementar um projeto numa área de 144 hectares, onde o espaço a climatizar rondaria 14 mil metros quadrados, com o mínimo impacto possível a todos os níveis. Por outro lado, queriam também que quem visse isto da estrada, pensasse que estava numa aldeia típica desta zona do interior do Algarve», desvendou.
«Deveríamos respeitar ao máximo a eficiência energética, proteção do ambiente e a necessidade de criar edifícios com gastos de energia quase a zeros. Com estas premissas, criámos um sistema geotérmico centralizado com bombas de calor com uma capacidade de 1,34MW de arrefecimento e de 2,47 MW de aquecimento, sendo que irá conseguir responder a 100 por cento das necessidades de arrefecimento, em 92 por cento às necessidades de aquecimento, e em 69 por cento às necessidade de águas quentes sanitárias. Para os restantes valores em falta será colocado um sistema solar fotovoltaico» complementar. Serão necessários 240 furos para as trocas térmicas, designados por BHE (Borehole Heat Exchange).
Segundo explicou ao «barlavento» o engenheiro geólogo Nuno Sousa da SYNEGE, as máquinas de perfuração fazem furos com cerca de 10 centímetros de diâmetro nos quais será inserida tubagem específica. No total, serão 28 quilómetros de tubagem para libertar calor entre o subsolo e a superfície. Depois do tubo introduzido entre os 110 a 125 metros de profundidade, o furo é selado, ligado horizontalmente aos demais e a uma «bomba que fará circular a água na tubagem, libertando calor. Isto permite ligarmos este aquecimento a um ar condicionado, a um pavimento radiante, ou à tecnologia que for necessária. O facto de a partir dos 10 metros de profundidade, a temperatura ser constante de 19 graus, ao longo de todo o ano, é muito importante. Ainda não tínhamos tido a oportunidade de trabalhar com este tipo de tecnologia em Portugal. Fizemos várias visitas especialmente em Espanha e Alemanha para conhecer diversas obras e fabricantes de materiais e todo o processo. Isto é algo novo e embora seja abordado em cenários académicos, em termos privados praticamente não existe em Portugal. Está a gerar muita curiosidade por parte da comunidade de geólogos», avançou.
Para Júlio Delgado, diretor geral do empreendimento, «o facto de este tipo de energia ser inovadora e de esta ser uma das maiores instalações de energia geotérmica da Península Ibérica faz com que este seja um dia muito especial para o Ombria resort. A nossa intenção não é só referir que seremos uma referência na Europa, mas comprová-lo. Temos um compromisso ativo com o ambiente, a comunidade local e as energias renováveis que queremos cumprir» referiu em declarações ao «barlavento».
Para o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, foi importante relembrar que o projeto se insere «numa zona ambientalmente muito sensível» mas que tem existido «muita preocupação em desenvolvê-lo com respeito pelos valores naturais e locais». «Associo-me com muita satisfação e prazer a este momento, em que este empreendimento se prepara para dar a conhecer uma tecnologia muito pouco conhecida no nosso país».
Também para a Diretora de Serviços da Direção Geral de Energia e Geologia, Carla Lourenço, este projeto tem tido «um grande interesse» e funcionado como «um grande laboratório de aprendizagem não só pela sua dimensão, como pelas soluções que estão aqui preconizadas». «Enquanto entidade podermos evoluir nesta temática da geotermia superficial, o que também para nós é uma novidade», referiu. «Achamos que o potencial geotérmico em Portugal está subexplorado e faz todo o sentido a integração dos recursos geotérmicos com outras tecnologias renováveis que contribuam para uma maior eficiência energética».
Daniel Muñoz, diretor de Geotermia e eficiencia energética da SACYR, empresa selecionada para execução da obra pela larga experiência na construção destes sistemas na Europa e na América do Sul, apresentou vários exemplos de trabalhos com recurso à geotermia executados anteriormente pela empresa, como é o caso do famoso empreendimento onde vive Cristiano Ronaldo, o LGC3 LaFinca Somosaguas em Madrid.
O resort conta com 65 apartamentos turísticos para venda, restaurantes, centro de conferências, club house, campo de golfe, Spa e outras infraestruturas. Todas terão conforto térmico graças a este sistema.
Ombria Resort tem tido uma procura «impressionante»
«A procura pelos produtos de golf, residências o hotel tem sido verdadeiramente impressionante embora ainda nem tenhamos começado bem a divulgar o projeto. Há realmente muita muita gente interessada em comprar habitações e no campo de golfe. Muitos ingleses, franceses, holandeses, alemães e de países escandinavos», revelou Julio Delgado, diretor geral do Ombria Resort. «Estamos muito satisfeitos com o ritmo das obras. O campo de golfe está praticamente terminado e relativamente ao Hotel e o Clubhouse já terminamos de aplanar os terrenos. Estamos a manter o ritmo esperado por isso com certeza a inauguração será em 2020», revelou em declarações ao «barlavento». O resort conta com 65 apartamentos turísticos para venda, restaurantes, centro de conferências, clubhouse, campo de golfe, Spa e outras infraestruturas. Todas terão conforto térmico graças a este sistema.