barlavento: Como está o Ginásio Clube Naval de Faro?
João Godinho Marques: Penso que é o clube mais representativo do concelho em termos de número de associados ativos, com 3227 inscritos e quase 100 anos de história. Na vela, há uma ligação familiar que tem passado de geração em geração. Desde há seis meses, quando tomámos posse, que estamos a trabalhar e a reorganizar muito o Ginásio Clube Naval. Pretendemos dar-lhe uma nova vida, uma nova dinâmica. Uma prova recente disso é o curso de vela para adultos e as férias desportivas, iniciativa que teve uma aceitação muito boa na comunidade. É a primeira vez que fazemos isto de forma autónoma e está a correr muito bem. Prova que temos um potencial muito grande. É bom ver 30 a 40 jovens a entrar pelas nossas instalações. Penso que isso dá-lhes uma referência, que queremos continuar a ser.
E que nos pode dizer em relação aos problemas que herdou?
Estamos a tentar resolver todos os problemas financeiros que encontrámos. Há um passivo de cerca de 345 mil euros que estamos a tentar regularizar, em articulação com a Docapesca, que, aliás, tem mostrado grande abertura ao diálogo. As instalações têm de ser remodeladas, como é lógico, porque nesse aspeto, o clube parou um pouco no tempo. Dedicou-se muito apenas à vela e à gestão da doca exterior. Mas o Naval é um clube desportivo de utilidade pública. Deve reforçar esse papel e recuperar a sua importância na sociedade, principalmente junto das camadas mais jovens. Temos de potenciar mais atividades como a natação, até porque nos últimos seis meses triplicamos o número de atletas. Hoje são quase 60. Em setembro, vamos fazer mais captação junto das escolas.
Como está a situação da doca de Faro?
A Docapesca já começou a fazer as intervenções em junho. Foi reparada uma zona que tinha aberto as ligas e estava a retirar areia da zona pedonal. Foi tudo estancado e reparado. Estava previsto continuarem as obras. Mas, a pedido do Ginásio Clube Naval e de outras instituições, não avançaram já porque agora é a época alta em que muitas pessoas vão querer usufruir da doca interior. E não só. A envolvente é palco de muitos dos eventos de verão do munícipio. Em setembro avançará então a obra de recuperação dos muros e das pedras que vemos cair. Vamos tentar avançar também, em simultâneo, com algumas intervenções, a partir de outubro.
Qual é a necessidade mais urgente nesta infraestrutura?
É preciso uma manutenção profunda, isso está à vista de todos. O problema que se coloca é que os barcos não podem sair quando a maré está cheia por causa da ponte do comboio. E hoje temos um problema maior ainda. Quando a maré está vazia, os barcos ficam em seco. Isso retira operacionalidade à doca, causa problemas às embarcações e constrangimentos ao Naval na gestão da infraestrutura. Tivemos de fazer um estudo, para determinar os custos da remoção dos resíduos da doca. Poderiam ser muito elevados, caso fossem considerados poluentes (classe 2). Felizmente são praticamente areias. Podem ser retiradas dali e colocadas em qualquer lugar. Será fácil retirá-las através de um sistema de sucção. Não será necessário dragar. É uma solução eficaz, pelo menos, num prazo de 15 a 20 anos. Mas o futuro que vislumbramos para o Naval, não é apenas a doca interior.
Que outro planos tem para o futuro?
Queremos reorganizar todo espaço exterior na Ria, por detrás da linha de caminho-de-ferro, criando ali uma plataforma para mais 270 lugares. Em abril apresentámos essa intenção em sede da comissão da AMAL, que será onde se vai definir a descentralização das competências de mar. Como sabe, ou ficarão a cargo de uma comissão, ou passarão diretamente para as autarquias. O nosso contributo foi dizer que é preciso reorganizar aquela zona lagunar. No sul de Espanha, todos os espaços semelhantes estão organizados em docas de recreio exteriores, sob gestão de clubes desportivos e associações de pesca. Não são marinas. Na verdade, não são mais do que um pequeno quebra-mar e fingers. Hoje, quem olhar para o lado da Ria, em Faro, verá ali cerca de 300 embarcações fundeadas. Estão em poitas, espalhadas, nada está legalizado. É mau aos olhos das autoridades, é mau até para a circulação natural das águas naquele canal.
Quanto custaria criar um novo cais de recreio adjacente?
Ainda estamos a avaliar, mas a infraestrutura poderá custar dois milhões de euros, porque terá de se fazer alguma reposição de cotas de fundo. E não sabemos qual a tipologia de classe de resíduos que ali estão. Isso é que poderá encarecer todo o processo. O nosso projeto já foi apresentado na autarquia farense, junto de responsáveis da tutela e na AMAL. Esta é uma área da Docapesca e tudo dependerá da legislação que vier a ser aprovada. A ideia é simples, trata-se apenas de reorganizar e de cuidar de tudo aquilo que já cá temos: das pessoas, das embarcações e da Ria.
Isto colide com o projeto do porto de recreio de Olhão?
Não, de todo. A marina de Olhão terá capacidade para embarcações até 12 metros. Em Faro estamos a falar de embarcações de recreio, mais pequenas, até 7 metros. E porque digo que não conflitua em nada? Por que o outro projeto é para captação, é para chamar pessoas. Este não, é para reorganizar quem já cá está. Isto tem mesmo de ser feito. Até a ilha de Faro, no verão, está cheia de poitas e de barcos. É outra doca que ali está, sem ser organizada, nem legal.
E que mais?
Outro projeto que entreguámos na AMAL, em abril, tem a ver com a criação do Centro Internacional de Vela Hugo Rocha. Nós já temos um espaço na ilha da Culatra, no núcleo do Farol, que nos é cedido pela Administração do Porto de Sines (APS), onde fazemos a nossa atividade, na Prainha. O que propomos é ocupar um conjunto de edifícios que estão na ponta da ilha, em frente ao pontão da barra, e cujas obras de recuperação e adaptação não seriam complicadas.
Pode detalhar melhor a ideia?
Temos ali condições únicas, se calhar as melhores na Europa, para a prática de vela, kytesurf e windsurf, entre outros desportos. Isto porque quando as condições climatéricas são boas, treina-se no mar. Quando são adversas, é possível treinar na zona interior da Ria Formosa. Um atleta ou uma equipa que aqui venha estagiar, por exemplo, durante uma semana, nunca ficará parado. Este projeto é acarinhado pelo atual executivo. E também por quem possa vir a ser executivo. O que sinto de todas as partes políticas interessadas é uma vontade de que isto se realize. O Centro Internacional de Vela terá o nome do nosso medalhado olímpico, o Hugo Rocha, que tem divulgado Faro, o Algarve e Portugal a nível mundial, e que tem que continuar a ser uma referência para o Ginásio Clube Naval.
E será possível utilizar essas estruturas da APS?
Algumas estão emparedadas. Só precisamos que sejam cedidas, ou ao Naval ou à Câmara Municipal de Faro. É lógico que se forem passadas para a autarquia, iremos avançar com um projeto conjunto. Será um projeto da cidade, do município e do Naval, clube que desde sempre tem feito toda a ligação ao mar. Faz sentido que conquiste esta e outras dinâmicas e que não fique parado. Na minha opinião, não acho que faça sentido dar esta oportunidade a privados. Também podemos fazer aqui um hostel, mas com um sentido de interesse público. Ou seja, esta é uma oportunidade de negócio para uma utilidade pública. Claro, isso é uma discussão de ideia política, compete a quem de direito. O índice temporal quer para o porto de recreio de 270 lugares, nas traseiras da doca interior de Faro, quer para este Centro Internacional de Vela que tanto ambicionamos dependerá muito das entidades envolvidas e dos seus responsáveis.
25º Volta ao Algarve arranca hoje
Está tudo pronto para receber as 29 embarcações inscritas, e os mais de 130 velejadores que irão disputar a 25º Volta ao Algarve, número que «supera todas as expetativas que tínhamos», revela João Godinho Marques, presidente do Ginásio Clube Naval de Faro, que tem a cargo a organização da regata. A prova começa hoje, quinta-feira, dia 13 de julho, com passagens por Lagos, Albufeira, Olhão e Tavira. Os participantes vêm de todo o país e apenas uma dezena de embarcações são oriundas da região. «Agarramos isto sempre como um projeto de continuidade. A prova faz parte da calendarização do campeonato regional e parte do campeonato nacional da classe ORC internacional», explica. Assim, até sábado, dia 15, além da vertente competitiva, a prova contará também com um programa social paralelo. Haverá momentos abertos à participação do público, como a festa ao pôr-do-sol (sunset party) na ilha da Culatra (na sexta-feira, 14 de julho) e a entrega de prémios no restaurante Gilão em Tavira (no sábado, 15 de julho), «num clima de grande animação e alegria». A volta conta ainda com a co-organização do Clube Vela de Lagos, Marina Yach Club de Albufeira e Clube de Vela de Tavira, com o apoio da Região de Turismo do Algarve e das Câmaras Municipais de Faro, Albufeira, Olhão e de Tavira.