«Eu comparo os vários tipos de mel às castas dos vinhos. Cada um tem os seus aromas, sabores e diferentes características», explica José Carlos Mestre, 40 anos, diretor da «Apisland». Sediada em Aljezur, na Costa Vicentina, esta empresa fundada em 2006 é hoje a maior exportadora nacional de mel a granel. O empresário chegou a trabalhar em algumas associações do sector «mas como não tinham a vertente de comercialização, acabei por formar esta empresa, com o apoio dos produtores».
Hoje, a «Apisland» adquire mel a cerca de 500 apicultores de todo o território nacional. Destes, cerca de 300 são do Algarve. «Os apicultores algarvios foram os primeiros a profissionalizarem-se. Sempre produziram as maiores quantidades, a nível nacional», distingue.
O mel a granel é acondicionado em bidões próprios de 300 quilogramas, e exportado, quase na totalidade, para países como a Alemanha, que, de acordo com o empresário José Mestre, é «em todo o mundo, o povo que mais consome mel, cerca de 1,6 quilogramas per capita por ano», seguidos de Espanha e França. «Queremos que os nossos clientes tenham acesso a mel de qualidade, e o português é, sem dúvida, um dos melhores do mundo porque se trata de um produto natural, único, excelente, com grandes benefícios para a saúde», defende. Também saudável é a contabilidade da empresa. As cerca de 1000 toneladas de mel vendidas geram, em média, uma faturação de três a quatro milhões de euros por ano.
José Mestre faz questão de continuar a estar presente nas mais importantes feiras alimentares internacionais como a SIAL, em Paris (França), e a AMUGA, em Colónia (Alemanha). O objetivo é «promover o mel português no exterior e, simultaneamente, ajudar os apicultores a escoar o produto». E confidencia que a procura tem sido tal que, «nem sempre temos a quantidade suficiente para responder às demandas dos mercados europeus».
«Os apicultores trabalham as colmeias na primavera e verão, entre junho e agosto, e depois vendemos esse mel a partir de setembro, até acabar. O mel a granel, este ano, já esgotou. Em Portugal existem mais de 10 mil apicultores e, só nos últimos três anos, o número médio de colmeias por apicultor aumentou para quase o dobro, segundo dados da Federação Nacional de Apicultores de Portugal (FNAP). Desde 2007 que a produção de mel tem vindo a crescer de forma sustentada.
Algarve não sabe o que produz
Contactada pelo «barlavento» Cristina Ferradeira, responsável pela Direção de Serviços de Alimentação e Veterinária da Região do Algarve, referiu não possuir «dados estatísticos sobre a produção de mel no Algarve». Já o gabinete do ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural fez saber que os municípios algarvios com maior número de apiários no Algarve são os de Loulé (1721), Silves (1549) e Tavira (1236).
João Casaca, da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal, referiu ao «barlavento» que «no nosso país, atendendo às condicionantes edafo-climáticas e ambientais (clima, flora e respetiva época de floração, subespécie de abelha), bem como as características do mercado (venda a granel a baixo preço), para uma exploração apícola gerar rendimentos que permitam remunerar o empresário em exclusivo, ou seja, apicultura a título principal – aquilo que se entende por profissional terá que ter uma dimensão mínima de 400 a 500 colmeias. Só assim se consegue atingir um volume de produção capaz de gerar economias de escala com interesse comercial. Facilmente se verifica, pelas estatísticas gerais, que a grande maioria dos produtores nacionais fazem apicultura como atividade complementar a uma outra, de onde obtêm a sua principal fonte de rendimento».
Especificidades regionais
Em 2015 José Carlos Mestre, diretor da «Apisland», criou também a marca «Méis de Portugal» aumentando a gama para a venda em frasco, a retalho, com diferentes pesos. Sob esta insígnia, três variedades já foram distinguidas no Concurso Nacional do Mel, organizado em 2016 pela Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP), com menções honrosas nas categorias de Castanheiro, Medronho e Laranjeira, entre mais de 40 concorrentes de todo o país.
No total, a «Apisland» disponibiliza no mercado 14 tipos diferentes. «Não existe nenhum mel em Portugal que não tenhamos para venda», garante. Variam conforme o tipo de flora das regiões em que são obtidos. «Por exemplo, Trás-os-Montes e Minho são ricos em mel de floresta, que provém de árvores como carvalhos, castanheiros e urzes. A Beira litoral é rica em eucaliptos, o Alentejo em girassol e Serra d’Aires em alecrim», explica José Mestre.
Os mais característicos do Algarve são os de rosmaninho, medronho, alfarroba e laranjeira, mas noutras zonas do país obtêm-se ainda as variedades de flores silvestres, montanha, tomilho, trevo, urze, e flores de primavera. Em breve a «Apisland» lançará um novo mel de frutos secos.
Também o consumo difere segundo os hábitos e as especificidades regionais. «O mel de alfarroba, por exemplo, é muito usado em culinária enquanto substituto do chocolate porque tem um sabor semelhante. O mel de rosmaninho, por outro lado, como é muito doce, há quem o considere uma alternativa ao açúcar. O de eucalipto e o de tomilho são bons para os pulmões», tendo um uso mais medicinal, refere José Carlos Mestre.
«Em Portugal os consumidores não têm muita informação sobre o mel, porém, em países como a França, Alemanha, Bélgica ou Itália já existe um manancial de literatura e utilizações que nós ainda não dispomos. Mas é algo que queremos mudar», promete. Curiosamente, no mercado português, é durante o verão que se vende mais mel, devido à procura dos turistas, acrescenta o empresário.