barlavento: Como é que a Altice vê Portugal daqui por cinco anos?
Alexandre Fonseca: Para já, vemos com muito bons olhos o crescimento económico que temos vindo a sentir nos últimos anos. Acreditamos que o país tem sustentabilidade. Mas para que essa sustentabilidade se concretize, é preciso que Portugal continue a apostar numa transformação do sistema educativo tradicional para dotar os mais jovens de competências digitais, reforçando o ensino das matemáticas e do raciocínio lógico. Também devemos apostar mais na requalificação profissional de adultos. Portugal tem uma faixa de população semiativa, na casa dos 40 anos de idade, que pode e deve ser qualificada do ponto de vista digital. Temos experiências disso na Europa que funcionam. Ou seja, se continuarmos este trabalho de crescimento da economia, de reforço das competências digitais, claramente, daqui por cinco anos, Portugal estará bem melhor do ponto de vista dos rankings europeus. Já agora, com o nosso projeto de infraestruturação do país, quase 6 milhões de casas portuguesas passarão a ter cobertura em fibra ótica. Ficaremos no topo europeu de países com este tipo de tecnologia de última geração.
Qual é o objetivo para o Algarve?
Hoje a região tem uma cobertura de fibra ótica na casa dos 65 a 70 por cento da população, mas fruto do que apresentámos em Faro, onde o objetivo é cobrir 80 por cento do concelho, e também daquilo que não vamos formalizar e que será uma aposta em todo o território algarvio, temos planos para acelerar esta cobertura. É normal que dentro de um ano e meio, provavelmente, a esmagadora maioria da população algarvia, incluindo os concelhos mais interiores, já tenham acesso a esta rede. Acredito que até ao Natal de 2019, mais de 90 por cento do Algarve já terá fibra ótica da Altice Portugal. Em relação às parcerias que estamos a desenvolver com os municípios e com a Universidade do Algarve, é um investimento que queremos que se traduza, obviamente, num crescimento do poder de compra desta região, na modernização dos seus serviços públicos e privados. Claro, que existindo estas condições, o operador líder de mercado também terá rentabilidades.
Do vosso ponto de vista, qual a diferença entre os futuros Algarve Tech Hub, em Faro, e o Altice Lab, a instalar em Pechão?
Há uma questão transversal a ambos, que tem a ver com a expansão da fibra ótica. Em Olhão temos duas iniciativas mais específicas. Desde logo, o apoio à educação. Vamos dotar quatro agrupamentos escolares com tablets, mas, além desse equipamento, o mais importante é estes que trazem uma plataforma pedagógica chamada «Aula Digital», do nosso parceiro Leya, que dá acesso a conteúdos como tutoriais e vídeos que modernizam o processo educativo, e que junta professores, pais e alunos no sentido de trazer a tecnologia para a educação. O segundo eixo da nossa atuação, e talvez o com mais impacto quer para futuro, quer na perspetiva de curto prazo, tem a ver com a formalização da promessa, já antiga, de estabelecer aqui no Algarve, um dos nossos laboratórios colaborativos da Altice Labs. Já existe um em Viseu e outro na Ribeira Brava, na Madeira. Vamos fixar em Olhão uma presença, diria, diária.
Não são projetos concorrentes?
Não, antes pelo contrário. O Algarve Tech Hub da Universidade do Algarve é uma iniciativa que tem como principal objetivo desenvolver competências na área das Tecnologias de Informação (TIC), podendo ligá-las a vários sectores, alguns deles tradicionais, aqui do Algarve, como por exemplo, o turismo. Já o laboratório colaborativo da Altice Labs vai beber recursos humanos a esse projeto académico, numa lógica de incubação.
Como será prestado o apoio à UAlg? A Altice Portugal vai ceder equipamentos ou criar bolsas de estudo?
Claro que tudo isso será possível, mas nós queremo ir um pouco mais além. Poderemos garantir a conetividade e todas essas componentes, mas aquilo que pretendemos é que estes laboratórios funcionem numa lógica de estímulo. Ou seja, vamos trazer os nossos engenheiros para o seio da comunidade académica. Além da competência técnica e do know-how, serão quase como os professores da universidade, mas numa lógica de inovação, definindo as grandes linhas orientadoras. Dou um exemplo. Imagine que os alunos querem desenvolver um produto inovador na área do wifi. Estes técnicos farão um acompanhamento muito próximo aos estudantes e investigadores. Claro que, muitas vezes, será necessário trazer equipamentos que só existem em um ou dois pontos do país, e nós temos essa capacidade e tecnologia. Depois vamos tentar fazer algo que pode parecer simples, mas não é – traduzir uma ideia técnica num bom produto comercial. Não é fácil. Temos exemplos de estudantes que montaram bons projetos, mas que depois é difícil ir para o mercado francês ou americano vender a ideia. É também nisso que vamos ajudar através da nossa rede comercial.
Há algum orçamento para isso?
Temos dois tipos de financiamento. Um interno, nosso, pois a Altice Labs, apesar de estar dentro do grupo Altice Portugal, é uma empresa rentável. É muito sustentável, gera riqueza e contribui para o crescimento do grupo no país. Portanto, alocamos verbas para este tipo de projetos, mas também temos uma área específica dentro da Altice Labs que trabalha os financiamentos disponíveis, como por exemplo, o Horizonte 2020, que é o maior programa estímulo à investigação e inovação da União Europeia. Canalizamos esses apoios ao desenvolvimento tecnológico para os laboratórios.
Até quando a Altice Labs e a Altice Portugal pretendem ficar na região algarvia?
Nestas componentes, não temos um horizonte temporal. O objetivo é criar uma rede de laboratórios no país, sendo o de Olhão, o terceiro. Posso adiantar que virão mais. Queremos que sejam braços-armados do nosso Centro de Competências de Aveiro, onde trabalham 700 engenheiros.
Já saíram produtos comerciais dessa sede?
Muitos, e se calhar até os que tem em sua casa. Por exemplo, o fiber gateway que temos hoje, aquele equipamento que é o router wireless mais potente no nosso mercado, é um produto totalmente desenvolvido e fabricado em Portugal. Hoje está presente nas nossas operações em França e nos EUA e diz «made in Portugal».
O que está previsto para Alcoutim?
Alcoutim é um pequeno concelho do Algarve, mas extremamente dinâmico que tem o desejo de se tornar numa vila inteligente, digital. Nós respondemos a reptos de grandes municípios, mas também estamos atentos aos pequenos. Uma parte da nossa comissão executiva reuniu com o elenco municipal para perceber como é que os nossos projetos de smart cities e de inovação podem contribuir para um projeto que nós achámos curioso, interessante e bem construído pela Câmara Municipal de Alcoutim para a transformação em vila digital.
E o caso de Monchique?
Foi um trabalho duro. Estamos a falar de 1500 postes de madeira que arderam, mais de 100 quilómetros de cabo que foram consumidos pelas chamas. Hoje podemos dizer claramente que a situação, dentro da parte das telecomunicações, está normalizada. Foram vários milhões de prejuízo. Aliás, no cômputo geral, de junho a outubro de 2017, a Altice teve um impacto de 20 milhões de euros devido aos incêndios. Não há seguros que suportem este tipo de infraestruturas. No pós-incêndio, a Altice Portugal deslocou para o Monchique cerca de uma centena de técnicos especializados, a equipa de Gestão de Crise, incluindo o seu diretor, permitindo desbloquear junto das autoridades situações extremas, em que foi necessário garantir acesso para a reposição das comunicações mais críticas. Mais, a Altice Portugal tudo fez para proporcionar às autoridades envolvidas na operação de combate às chamas os meios necessários à garantia das comunicações, disponibilizando telefones satélite às autoridades, como o equipamento V-SAT com gerador no quartel de Bombeiros de Monchique, acionou vários geradores e foram também entregues vários kits de emergência de transmissão rádio. Em todo o momento esteve em permanente apoio e coordenação com as autoridades e populações afetadas pelo incêndio e em contacto com todas as autoridades no terreno de operações, nomeadamente Autoridade Nacional de Proteção Civil, Ministério da Administração Interna e municípios de Monchique, Silves e Portimão. Mas a Altice Portugal tem ainda na sua estratégia um eixo fundamental que é a responsabilidade social. Por isso, ponderamos apoiar as populações, além da tecnologia, ou seja, com ações concretas, em coordenação com os municípios e através da nossa Fundação.
Laboratório high tech em Pechão
Tal como anunciado há cerca de um ano, foi assinado na quinta-feira, 4 de outubro, o memorando para a criação de uma incubadora de empresas de base tecnológica em Pechão, fruto de uma parceria entre a Altice Labs, o ramo do Grupo Altice que se dedica à inovação e o município de Olhão. Este polo funcionará como plataforma a partir da qual, empresas e empreendedores poderão desenvolver aplicações ou tecnologias que se enquadrem na estratégia de desenvolvimento do grupo. Surge na sequência de outros dois polos complementares à estrutura principal da empresa na Universidade de Aveiro, localizados em Viseu e no Funchal. Foi ainda instituído um Conselho Estratégico de Inovação e Tecnologia, integrado por elementos da autarquia e da Altice, e por representantes de entidades relevantes em diversas áreas da comunidade local e regional, como a AMAL e CCDR do Algarve, todas determinantes para que este projeto viesse a ser uma realidade.
Algarve Tech Hub nasce em Faro com o apoio da Altice Portugal
Captar e reter talento na região, desenvolver projetos académicos de interesse público ou de negócio que dinamizem a economia algarvia, é o principal objetivo do protocolo de cooperação entre a Universidade do Algarve (UAlg) e a Altice Portugal, assinado na quarta-feira, 3 de outubro. Na ocasião, foi ainda formalizado o apoio à criação do Algarve Tech Hub, que pretende ser um Silicon Valley no seio da UAlg.
Segundo o presidente da Câmara de Municipal Faro, Rogério Bacalhau, este é um projeto «no qual estamos muito empenhados, pois permite-nos alargar horizontes para todos os empreendedores, que cada vez mais procuram o Algarve e Faro, como um polo de inovação, dinamismo e empreendedorismo. Irá reforçar a oportunidade para sermos a casa de mais empresas tecnológicas, serviços de inovação e start-ups nacionais e de outros países, e a nossa capacidade de atrair emprego e investimento qualificado».
Para isso, foi estabelecido um protocolo geral de cooperação entre a empresa líder de telecomunicações e a Associação Algarve Science and Technology Park (ASTP) – Parque da Ciência e Tecnologia do Algarve. Além da UAlg, esta entidade tem como associados os municípios de Faro e de Loulé, e a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE). Pretende-se criar e dinamizar um ecossistema tecnológico na região, e promover novas oportunidades para empresas nas área das tecnologias de informação, comunicação e eletrónica (TICE), saúde e bem-estar, indústrias culturais e criativas, do mar, agroalimentares, e de energia, entre outras. A Altice Portugal vai apoiar o projeto Algarve Tech Hub em várias vertentes, sobretudo com know-how e conhecimento que podem acrescentar valor aos projeto que ali serão desenvolvidos, além de potenciar o acesso de produtos a mercados estrangeiros (no exterior). A UAlg em conjunto com a Altice Portugal, com a chancela do «Jornal Económico», vai ainda organizar uma conferência em 2019, sob o tema «Impacto da transformação digital nos serviços e turismo na região Algarvia», com especialistas de várias áreas para pensar a importância das TICE.
Munícipes isolados de Alcoutim vão ter telemedicina com a MEO
Acompanhar e monitorizar o estado de saúde dos munícipes que residem em zonas isoladas do concelho de Alcoutim, onde muitas vezes se encontram os mais necessitados e com maiores dificuldades de deslocação é um dos problemas que encontrará resposta em alguns produtos e serviços do portefólio da MEO. Para isso, Osvaldo Gonçalves presidente da Câmara Municipal de Alcoutim e a Altice – MEO, representada pelo administrador para a área empresarial e institucional, João Ventura Sousa, celebraram na quinta-feira, 4 de outubro, um protocolo de colaboração. O documento visa desenvolver e implementar um conjunto de iniciativas, tais como a solução digital de apoio remoto SmartAL e o sistema de telemedicina e de telediagnóstico Medigraf. Estas soluções, desenvolvidas por empresas do Grupo Altice, permitem, através de um acesso à Internet, o contacto remoto de apoio a munícipes sinalizados, bem como a realização à distância de consultas médicas e a análise de meios complementares de diagnóstico, em tempo real. Este é um exemplo de conceitos inovadores de «Smart Region» que Alcoutim pretende implementar para «promover o desenvolvimento da região e contribuir para a qualidade de vida da sua população», uma das mais envelhecidas do Algarve.