O portimonense Miguel Martinho descobriu o windsurf com 10 anos de idade, influenciado pelo seu padrinho, o falecido advogado e político Francisco Florêncio, praticante da modalidade. Hoje, aos 42 anos, quase 30 de competição, apresenta um palmarés invejável em qualquer modalidade e o maior no windsurf em Portugal: 20 títulos de campeão nacional, três de campeão europeu e um de campeão mundial. «É uma estrelinha atrás de mim», começa por dizer. Mas, depois, confidencia que os resultados são o fruto de muito treino e enorme dedicação à modalidade, a par do apoio familiar incondicional.
O velejador garantiu a organização de regatas integradas no Campeonato do Mundo, na Praia da Rocha, durante três anos, com início já em setembro. A logística no mar estará a cargo do Clube Naval de Portimão. Haverá regatas das três classes de topo: Raceboard, Formula e Formula Foil, estando previstos cerca de 200 atletas de todos os continentes. Ou seja, no total, o contingente desportivo deverá rondar cerca de 500 pessoas, por um mínimo de uma semana. Muitos virão mais cedo, para se adaptarem ao campo de regatas. Aliás, Portugal é o primeiro país a organizar uma prova mundial de Formula Foil. Por isso, estarão presentes membros do Comité Olímpico, porque esta classe pretende ser olímpica, a partir dos Jogos Olímpicos de França, em Paris, 2024.
Miguel Martinho acaba de se sagrar novamente campeão nacional aos 42 anos, foi campeão mundial aos 30 e europeu em datas posteriores. Como é isto possível nesta idade? A explicação é simples. «As modalidades de competição, na vela, são muito técnicas. Quanto mais conhecimentos técnicos possuirmos, melhor andamos. Em termos de regata, a idade é uma mais-valia, pela experiência adquirida. Quando temos uma linha de partida com 50 participantes, todos a querer fazer o mesmo, há que ser técnico, encontrar vento limpo que nos permita ganhar vantagem. Pelo contrário, as modalidades de freestyle, nas ondas, geram campeões com menos de 20 anos de idade». Se a idade não é impedimento e um windsurfista de mais de 40 anos é jovem para a modalidade, qual é o elemento mais importante?
«O estado mental. Um atleta de alta competição já tem tudo afinado, no ponto, já fez o trabalho de casa e está fisicamente em forma. Só necessita de estar psicologicamente bem. Não pode ter maus dias. Tem de entrar sempre para dar tudo o que tem, até em regatas a brincar. Esse é o segredo dos campeões», revela Miguel Martinho, que espera ter força para continuar assim por mais uns anos largos.
E que pensa sobre a falta de sangue novo na modalidade, o desinteresse dos jovens? Será porque pretendem resultados imediatos, que o windsurf dificilmente proporciona? «Em Portimão, não temos feito nada para que eles apareçam e temos de fazer. Não podemos estar à espera que surjam do nada. Temos de criar condições e abrir horizontes, para que possam querer», sublinha. «E não só no windsurf. Também nas outras modalidades, para que tenham mais dinâmica, mais vontade desportiva. Temos de levar os jovens a experimentar as várias modalidades, cativando potenciais talentos desportivos que, muitas vezes, se perdem por falta de condições e de conhecimento», que é muito importante.
Este atleta de alta competição, que não consegue viver do desporto e que necessita de um orçamento de 30 a 40 mil euros anuais para se manter no topo, competindo a nível internacional, lamenta que Portugal não seja um país virado ao desporto, o qual não deve ser fruto apenas pelos atletas, mas também pelos clubes, dirigentes, governantes e comunicação social. «Se abrirmos um jornal desportivo com 50 páginas, temos meia página dedicada às atividades que não sejam futebol. Assim, não se consegue promover o desporto, pois não? Não se muda a visão, nem a filosofia existente», critica.
Em relação aos Mundiais de Windsurf na Praia da Rocha, Miguel Martinho não tem dúvidas. «Vai ser muito bom para a projeção da cidade. É uma porta que se abre à possibilidade de estágios de clubes e atletas internacionais, fora das épocas altas do turismo. Temos uma costa maravilhosa e, se não a aproveitarmos, deixamos cair por terra um bocadinho do que temos de bom».