Há dez anos que o Algarve não vive a emoção de receber uma das etapas da prova rainha do ciclismo em Portugal. Este ano, Albufeira chegou-se à frente do pelotão e conseguiu que a Volta a Portugal em ciclismo volte a rolar em piso algarvio, sendo assim a cidade de chegada da primeira etapa da competição, no dia 2 de agosto.
Apesar de ainda não terem sido divulgadas todas as etapas que integram a Volta a Portugal, que decorrerá entre 1 e 12 de agosto, a organização promoveu uma apresentação pública da primeira etapa do evento desportivo, na quarta-feira, 6 de junho, em Albufeira.
Após o prólogo, no dia 1 de agosto, em Setúbal, a 80ª Volta a Portugal Santander, organizada pela Podium Events, segue caminho para Alcácer do Sal, de onde partirá rumo a Albufeira, sendo esta a primeira etapa em linha com um total de 191,8 quilómetros, avançou Joaquim Gomes, ex-ciclista e agora diretor da prova.
Quem se mostrou bastante satisfeito com esta conquista de voltar a trazer a prova para o Algarve foi José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira, e aficionado confesso pela modalidade.
«Cerca de um mês antes da Volta ao Algarve, em conversa com o Delmino Pereira [presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo], falámos na hipótese da Volta a Portugal vir ao Algarve, a Albufeira», começou por explicar o autarca.
«Na altura, sugeri que se conseguisse fazer uma parceria tripartida com mais dois municípios, mas era uma logística mais complicada e chegámos à conclusão que seria melhor escolher um município, sendo que, no próximo ano, outro poderia chagar-se à frente para dar continuidade a este desiderato que é uma verdadeira Volta a Portugal», acrescentou. É que, segundo o autarca, é comum que o público acabe por referir que nestes 10 anos, a Volta não era verdadeiramente uma volta ao país, pois não contemplava o Algarve e Alentejo, ambas as regiões com uma prova de ciclismo própria.
E para o autarca até nem faz sentido, pois o ciclismo é um desporto popular, em que as pessoas não precisam de pagar bilhete para assistir, levando milhares à beira da estrada para ver o pelotão medir forças em cada etapa.
«Vamos ter esse privilegio. Para mim, ficar ligado a este regresso é algo que me dá imenso prazer, tanto enquanto eleito na Câmara Municipal, como cidadão que vive e acompanha quase tudo o que se passa a nível de ciclismo internacional», resumiu José Carlos Rolo.
A satisfação será grande, mas levar a Volta a Portugal a Albufeira, em pleno mês de agosto, com a cidade apinhada de turistas e os acessos fechados será um verdadeiro «pesadelo logístico». Ainda assim, o autarca considera que haverá uma forte moldura humana composta tanto por residentes, como por turistas nacionais e estrangeiros, na maioria apreciadores desta modalidade, e que será uma etapa marcada pelo sucesso.
«Penso que iremos ultrapassar esse dia com sucesso, com vontade de voltar nos próximos anos, porque o que interessa criar é essa possibilidade de continuidade».
Joaquim Gomes, que se estreou como diretor da Volta quando esta arrancou da Marina de Albufeira, regressa também ao Algarve na mesma função. O ex-ciclista, que até foi o primeiro enquanto atleta a garantir a vitória de uma equipa algarvia (Louletano-Vale do Lobo) na prova que se desenrola na região, em 1988, assinalou a importância desta competição regressar ao Algarve. «Quando falamos de uma região tão representativa nesta modalidade, pois teoricamente tem duas das mais importantes equipas da Volta a Portugal e, fruto das circunstâncias, acaba por estar arredada deste grande evento desportivo durante dez anos, quando se criam as condições para que ela possa regressar, sinto uma grande satisfação», disse Joaquim Gomes.
«Será uma primeira etapa com algumas dificuldades. Vai ter muito peso do ponto de vista desportivo, como têm sempre as primeiras etapas, em que todo o pelotão se apresenta à partida com enorme nervosismo. As tentativas de fuga multiplicam-se quilometro após quilómetro. Só tenho uma certeza. Vai ser uma das etapas mais importantes desta edição. Complicada do ponto de vista logístico, mas que acredito que vamos estar à altura para que o Algarve possa continuar, no futuro, e com regularidade a receber este evento», disse ainda Joaquim Gomes.
Para Delmino Pereira, presidente da Federação, é «importante que a Volta tenha uma cobertura territorial de todo o nosso país. É óbvio que, infelizmente, não é possível fazer isso todos os anos. Vamos procurar, contudo, que assim seja».
A promoção do território foi outro dos pontos destacados na apresentação desta primeira etapa. Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve, focou que «o retorno dessa promoção, dessa imagem, é muito forte, porque não são apenas os ciclistas a pedalar e quem vence que conta. É também a importância de mostrar ao mundo as belezas naturais, o património e as pessoas», cingindo-se ao exemplo da Volta ao Algarve. Ora, no caso da Volta a Portugal, a escala ainda será maior.
«Nos últimos anos, enquanto presidente da RTA, não tenho tido meios financeiros para apoiar as provas ou as equipas da região, mas tenho procurado investir naquilo que é a pressão. Foi também um pouco de lobby para que a Volta regressasse ao Algarve e, neste caso, a Albufeira», acrescentou Desidério Silva.
Volta a Portugal custa 3,5 milhões de euros
A prova rainha do ciclismo em Portugal é muito mais do que um evento desportivo, pois além de ter quase um século de realização (primeira edição foi em 1927 contando com 79 provas), envolve cerca de 70 municípios, bem como diversas entidades e instituições. Conta com «um orçamento que, entre o alfinete que prende o dorsal do corredor, que somos nós que cedemos o dorsal, ao custo da segurança da volta, ronda os 3,5 milhões de euros», distribuindo do ponto de vista da exposição mediática mais de 90 milhões de euros pelos parceiros, avançou Joaquim Gomes. «Isto é, as marcas que estão ligadas e os municípios que são parceiros, no final do evento têm um exposição proporcional ao grau de investimento», explicou o diretor da Volta a Portugal.
E mais do que este retorno, Joaquim Gomes contabiliza ainda o peso na atividade económica local de uma caravana de 2500 pessoas da organização, equipas e atletas, pois é necessário alojamento, restauração, entre outras vertentes.
A verdade é que «deste ponto de vista se há altura em que o Algarve não necessitaria da prova seria no verão. Só para terem uma noção, a partida da etapa seguinte será em Beja», sendo necessário alojar os elementos da caravana no eixo entre Albufeira e Beja. No entanto, Joaquim Gomes afirmou que é difícil fazer uma reserva para 2500 pessoas, no dia 2 de agosto», exemplificou.
Quanto à questão da cobertura territorial, Joaquim Gomes justifica a imposição da União Ciclista Internacional que obrigou a reduzir o número de etapas da Volta a Portugal para um prólogo e dez etapas, tornando também complicada a total cobertura territorial, que no passado, quando a prova tinha 21 dias, era possível.