Mario Tronco já trabalhou com Giacomo Scalisi e Madalena Victorino, mentores do projeto «Lavrar o mar – as artes no alto da serra e na Costa Vicentina».
O palco será ao ar livre, em plena paisagem da Costa Vicentina, no sábado, 26 de maio, às 19 horas. A Orchestra di Piazza Vittorio (OPV) «existe há mais de 15 anos. Tem diferentes formações e uma atividade bastante variada, desde concertos à escrita de obras e composição de música original», explica Mario Tronco, responsável pela direção musical e artística deste coletivo italiano.
É o caso da oratória «Credo», cuja estreia aconteceu em setembro de 2015, na Igreja de São Domingos integrado na 7ª Edição do Festival Todos – Caminhadas de Culturas. Mais tarde, em dezembro, foi apresentada no Teatro Olímpico de Roma.
«É uma oração secular dirigida àqueles que têm fé, mas também aos que vivem em dúvida. É um trabalho sobre o diálogo inter-religioso. Sendo a nossa orquestra composta por cristãos, muçulmanos, hindus e ateus, isso é algo natural», descreve Mario Tronco. Aliás, para o maestro, uma oratória é simplesmente «escutar-mo-nos reciprocamente».
As músicas têm textos do padre poeta português Tolentino Mendonça, com quem o maestro não teve qualquer dificuldade em entender-se. «De certa forma, trabalhar com ele foi muito simples, porque os seus versos expressam precisamente aquilo que era a ideia do nosso projeto. A minha única intervenção foi convencê-lo a abandonar a terceira pessoa, usando antes a primeira pessoa, para que os versos assumissem ainda mais um caráter universal», conta. Das várias apresentações que a OPV tem feito desde a estreia, «a tónica tem sido dada à forte empatia e identificação do público com os textos de Tolentino Mendonça, bem como ao tom popular e imediato conferido pela própria música», acrescenta.
«Credo» nasce da «ideia de dar um significado musical à expressão diálogo inter-religioso», mas não deixa de ser interessante que tenha referências a Giordano Bruno teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano italiano do século XVI condenado à morte na fogueira pela inquisição. «A ideia de referir Giordano Bruno é a minha, porque é um texto que expressa um tipo de crença naturalista, um ato de fé em relação à natureza, que é muito próximo de alguns ritos naturalistas africanos e é também por isso que a confiámos a Kaw Sissoko, nosso intérprete de Kora e cantor senegalês. Em Credo há também textos de Caproni e Ibn Arabi, que é um poeta sufi de 1100. Também musicámos uma inscrição encontrada na parede de um refúgio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, que dizia: acredito no sol mesmo quando não o vejo».
No conjunto, «Credo» são nove peças, uma miscelânea de estilos e andamentos. «É impossível separar uma música de outra num projeto no qual as notas e as palavras se completam para resultar numa unidade de discurso final», complementa o maestro.
Mario Tronco já trabalhou com Giacomo Scalisi e Madalena Victorino, mentores do projeto «Lavrar o mar – as artes no alto da serra e na Costa Vicentina», com quem diz ter «grande proximidade afetiva e intelectual». E justifica: «o nosso trabalho é impulsionado pelos mesmos objetivos, para melhorar as peculiaridades do território e transformá-las em espetáculos. Conheço bem a zona de Aljezur e espero que a nossa música possa percorrer as falésias com que sentindo-se em casa, tal como acontece sempre connosco em Portugal», conclui.
O «Lavrar o Mar – As Artes no Alto da Serra e na Costa Vicentina» é um projeto da cooperativa «Cosanostra», da coreógrafa Madalena Victorino e do programador e diretor artístico Giacomo Scalisi, para Aljezur e Monchique com o apoio do programa «365 Algarve» e os municípios de Aljezur e Monchique, e ainda do CRESC Algarve 2020.
Devido às condições do espaço e ao percurso pedonal de um quilómetro até ao local do espetáculo, a organização recomenda ao público que traga calçado confortável, um banco portátil, manta e almofada. Está previsto um transporte para pessoas com restrições de mobilidade. O bilhete custa cinco euros e pode ser adquirido na BOL. A lotação é de 500 pessoas.