Mais de 1.300 alunos de 52 turmas dos cinco municípios do Algarve onde as aulas presenciais foram suspensas estão em isolamento, havendo registo de 78 alunos infetados com COVID-19, disse hoje à Lusa a delegada de Saúde do Algarve.
A decisão da passagem ao ensino não presencial, até ao final do ano letivo, nas escolas do 1.º e 2.º ciclos dos municípios do Algarve Central em Faro, Loulé, Albufeira, Olhão e São Brás de Alportel, foi anunciada no domingo ao final da tarde, tendo as autoridades de Saúde alegado a «gravidade da situação» epidemiológica.
Em declarações à Lusa, Ana Cristina Guerreiro afirmou que a decisão começou a ser pensada no sábado de manhã, por se estar «a isolar cada vez mais salas», mas a articulação entre todas as estruturas envolvidas levou algum tempo e as autoridades queriam «aproveitar o efeito da paragem» das aulas no fim de semana.
«Nós sabemos que quando a taxa de prevalência na comunidade é muito elevada começa a ser mais difícil de controlar o número de casos nas escolas e a transmissão escolar, e estes municípios estavam com taxas de incidência a 14 dias muito elevadas», justificou Ana Cristina Guerreiro, em declarações à Lusa.
Segundo a Autoridade de Saúde Regional do Algarve, a taxa de incidência a 14 dias por 100 mil habitantes nestes cinco concelhos é «muito elevada», com 583 em Albufeira, 329 em Faro, 448 em Loulé, 403 em Olhão e 326 em São Brás de Alportel.
De acordo com a delegada de Saúde do Algarve, existem também várias equipas desportivas em isolamento, relacionadas com os surtos escolares, envolvendo modalidades como dança, hóquei e basquete, no entanto, a frequência dessas atividades não foi suspensa.
«Neste momento, não quisemos afetar mais a vida das pessoas, no sentido de fechar Atividades de Tempos Livres (ATL) ou esse tipo de atividades, mas vamos gerindo caso a caso», sublinhou, acrescentando que, apesar da suspensão das aulas, se mantém a possibilidade de realização de provas de aferição.
Questionada sobre o facto de haver ATL que optaram por não iniciar hoje atividades, Ana Cristina Guerreiro reconheceu ter conhecimento da situação, que atribuiu a eventuais «dificuldades de organização», sublinhando que podem depois abrir, «dando resposta à necessidade das pessoas».
Relativamente à situação epidemiológica nos restantes 11 concelhos da região, a responsável admitiu que há municípios no Barlavento «com incidências a ficarem bastante elevadas», nomeadamente Lagos e Portimão.
No entanto, frisou, neste momento as autoridades consideram que os cinco concelhos abrangidos são aqueles onde se justificava a medida, que deve «ser sempre proporcional» à situação, havendo, para já, ainda «alguma diferença» ao nível das taxas de incidência.
No comunicado divulgado no domingo ao final da tarde, a Autoridade de Saúde Regional do Algarve explicou que a decisão teve como base «o princípio da precaução», devido à existência de «816 casos confirmados ativos de COVID-19» na região.
«Esta medida, decidida pela gravidade da situação, de modo a conter cadeias de transmissão, por um período previsível de 12 dias iniciado na segunda-feira, dia 28 de junho, coincidindo com o final do ano letivo, será monitorizada permanentemente e revista no dia 09 de julho, com análise da situação epidemiológica dos municípios nessa data», pode ler-se na nota.
A autoridade de saúde do Algarve salienta que a «investigação epidemiológica está em curso e será garantida a vigilância de contactos pelas autoridades de saúde, delegados de saúde e serviços de saúde pública, que irão identificar e manter em isolamento profilático e vigilância os contactos diretos dos casos confirmados com o apoio permanente das forças policiais».
A autoridade de saúde solicita ainda à comunidade educativa das escolas que contactem a linha SNS24 «caso surjam sinais ou sintomas» de COVID-19.
A região do Algarve é a que apresenta o índice de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2 mais elevado no país, com 1,3, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) na sexta-feira.
A nível nacional, desde 14 até 20 de junho, observou-se uma redução do Rt de 1,20 para 1,1, o que também se registou em Lisboa e Vale do Tejo, mas no Algarve observou-se «um aumento acentuado» do índice de transmissibilidade, que passou de 1,07 em 27 de maio para 1,4 em 14 de junho (0,33 em 19 dias).
Na quinta-feira, o governo alertou que na próxima semana, se a situação epidemiológica se mantiver, «mais 16 concelhos» estarão no nível de risco muito elevado de incidência de COVID-19, situação em que se encontram agora Albufeira, Lisboa e Sesimbra.